Folha de S. Paulo


MITsp: Coreógrafo trata de conflito na Palestina com obra dura e crua

"Arquivo", coreografia do israelense Arkadi Zaides que está sendo apresentada na MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) é uma obra dura e crua.

A dureza já está implícita em seu tema -a vida nos territórios ocupados da Cisjordânia– e a crueza é uma opção formal do artista.

Jean Couturier
O coreógrafo israelense Arkadi Zaides em cena do espetáculo
O coreógrafo israelense Arkadi Zaides em cena do espetáculo "Arquivo"

Zaides explica, seco, o que o público vai ver: imagens de vídeos, filmadas por palestinos, para denunciar violações de direitos humanos.

Eles filmaram os colonos judeus, seus filhos, os soldados. Às vezes também filmam um rebanho de ovelhas sendo expulso do local. Ou o fogo sendo ateado em um campo por homens encapuçados.

Todas as imagens têm legendas, explicando local e situação da cena (manifestação, crianças bêbadas tentando arrombar uma casa). E a legenda viva da dança: Zaide mimetiza os movimentos e posturas das pessoas filmadas.

O dia a dia em clima de guerra torna-se real no corpo vivo em frente a plateia. Não há abstração. Não há o que "não entender" –uma questão sempre presente na dança contemporânea.

Mas também não há um discurso fechado, uma mensagem unívoca. O corpo que se move é vítima e agressor.

O coreógrafo repete e repete os movimentos, enquanto zapeia as cenas com seu controle remoto. E, de quando em quando, desliga o vídeo e se posta bem à frente à plateia.

Vagarosamente, passa os olhos pelo público. Ele encara as pessoas, mas com fisionomia neutra, sem expressar alguma emoção específica ou um julgamento. Seu olhar é mais de espanto.

E voltam as cenas em vídeo e os movimentos duplicados na tela e no corpo. Até que a projeção é desligada. Restam só os movimentos, que agora se tornaram parte do corpo do bailarino e que sucedem em sequências, em uma dança que fica cada vez mais frenética, quase uma convulsão.

E, de novo, Zaides se posta bem em frente a plateia e encara as pessoas. Há um minuto de silêncio antes de o público perceber que a apresentação acabou. Resta-lhe as palmas. E a perplexidade.

ARQUIVO
QUANDO sex. (13), sab. (14) e dom. (15), ás 19h
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776
QUANTO grátis (retirada de ingressos duas horas antes do espetáculo)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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