Folha de S. Paulo


Prefeitura quer implantar 83 salas de cinema popular em São Paulo

Até o fim da gestão Haddad, em dezembro de 2016, a Spcine, empresa de fomento ao audiovisual paulistano, planeja implantar 83 salas de cinema popular na cidade de São Paulo –todas com projeção digital e ingressos entre R$ 2 e R$ 10–, em bibliotecas, equipamentos culturais e CEUs (Centros Educacionais Unificados). Do total, mais da metade ficará na periferia.

"A ideia é atuar onde o mercado não consegue chegar. É uma forma de ajudar o cinema brasileiro a ter tela no país", diz o presidente da Spcine, Alfredo Manevy. Segundo ele, a programação vai privilegiar produções nacionais, sem se restringir a elas.

Com orçamento de cerca de R$ 14 milhões para a implantação (metade vindo da Spcine e metade que se pretende buscar com parceiros), Manevy espera que o projeto se mantenha com o dinheiro das bilheterias, além de possíveis receitas vindas da publicidade antes da exibição dos filmes, de eventuais concessões de uso dos espaços para outras atividades e de patrocínios de outras empresas.

"O que barateia o investimento é que não vamos precisar construir nada: as salas já existem, com poltronas e tudo", afirma Manevy. "O que vamos acrescentar é a projeção e o som digital." O primeiro edital para a compra desses equipamentos deve sair nas próximas semanas, diz.

A prefeitura tem planos de incluir nesse circuito locais que já foram cinemas de rua e hoje estão desativados na região central, como o Art Palácio (já desapropriado), e os cines Ipiranga e Paissandu.

Exibidores e especialistas em programação cultural na periferia elogiam a proposta, mas enumeram empecilhos.

"A maior dificuldade dos cineclubes nas áreas pobres é criar o hábito nos frequentadores: o público é pequeno", diz Rose Hikiji, professora de antropologia na USP e especialista em cultura na periferia. "Mas a criação de salas mais próximas e mais acessíveis pode criar um hábito, como é ir ao shopping."

Para Daniel Fagundes, um dos fundadores do Núcleo de Comunicação Alternativa, que há dez anos exibe filmes na periferia, cobrar pelo ingresso pode ser um entrave ao projeto, "a não ser que exibam filmes mais comerciais".

"E quem fará a curadoria dos filmes? A gestão dessas salas tinha de ser compartilhada com os coletivos que já fazem esse trabalho", afirma.

André Sturm, dono do cinema de rua Belas Artes, afirma que só a bilheteria não custeará a manutenção do circuito. "Mesmo já tendo os locais, a prefeitura vai precisar de patrocínios. No dia a dia de um cinema, até 50% da renda acabam indo para pagar o aluguel do filme."

A inspiração para o projeto, conta Manevy, vem do Cine Carioca, sala que existe desde dezembro de 2010 no complexo de favelas do Alemão, no Rio. Com projetor digital e ingressos de R$ 6 a R$ 12, tem 58% de taxa média de ocupação, a maior do país, com 90% de público que nunca havia ido ao cinema antes.

Editoria de Arte/Folhapress

RAIO-X
Orçamento do projeto: cerca de R$ 14 milhões
Financiamento: metade com dinheiro da Spcine; a outra metade deve vir de parceiros
O que haverá: salas com projetores digitais
Ingressos: de R$ 2 a R$ 10, a depender da programação

QUANTO CUSTA IR AO CINEMA EM SP

Cinema de rua: Caixa Belas Artes: de $ 12 a R$ 22

Cinema do centrão: Marabá Playarte: de R$ 12 a R$ 18

Cine pornô: Cine Paris: de R$ 10 a R$ 14

Shopping: Pátio Higienópolis Cinemark: de R$ 21 a R$ 27

Cine Vip: Cinépolis JK Iguatemi: de R$ 36 a R$ 73

Cine 3D: Kinoplex Itaim: de R$ 31 e R$ 34

Cine Imax: Espaço Itaú de Cinema Pompeia: R$ 30 e R$ 44

Cinusp/Cinemateca: grátis

Mostra Internacional de Cinema: ingressos individuais em 2014: de R$ 16 a R$ 20

Pipoca pequena: de R$ 7 (Shopping Campo Limpo) a R$ 9 (Iguatemi Cinemark)

Bombom Sonho de Valsa: R$ 2 (Cine Livraria Cultura)


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