Folha de S. Paulo


Kim Gordon sangra dores da separação em biografia

Kim Gordon, a musa enigmática do indie rock, está mais exposta do que nunca.

Sem deixar a aura de cool, a artista de 61 anos faz uma turnê para promover sua autobiografia, na qual fala sobre como superou o divórcio e o fim do Sonic Youth ouvindo muito rap, além de criticar alguns desafetos e mostrar seu lado pouco conhecido de mãe e artista plástica.

"Preocupei-me com muitas coisas quando esescrevia, mas vi como uma oportunidade de colocar contexto e esclarecer histórias. Há muitos mitos por aí", disse Gordon num evento em Los Angeles para promover "Girl in a Band", que será publicado no Brasil pelo selo Fábrica231, ainda sem data. A biografia estreou em segundo lugar entre os mais vendidos do jornal "The New York Times" neste mês.

Jessica Rinaldi/Reuters
Kim Gordon e Thurston Moore em show do Sonic youth em Nova York, em 2011
Kim Gordon e Thurston Moore em show do Sonic youth em Nova York, em 2011

O livro começa com a última turnê do Sonic Youth e termina com a traição de seu ex-marido e parceiro de banda Thurston Moore. Com quase três décadas de casamento, eles procuraram ajuda de um terapeuta, mas ele não parou de se encontrar com a amante. "Estava furiosa. Não apenas por ele se recusar a tomar responsabilidade, mas pela pessoa em que ele me transformou: sua mãe", escreve a baixista.

Há passagens curiosas com famosos, como um show em uma casa de praia com Henry Rollins, ex-vocalista do Black Flag, trabalhos de moda com Sofia Coppola e Marc Jacobs, um namoro com Danny Elfman e encontros reveladores com Kurt Cobain (1967-1994) e Courtney Love, cuja banda Hole teve o primeiro álbum produzido por Gordon.

Love surge como "narcisista manipuladora", enquanto Cobain pede conselhos, já que sua mulher achava que a filha gostava mais do pai.

Sua família ganha destaque, em especial seu irmão. Os dois cresceram em Los Angeles e frequentaram escolas experimentais, mas tinham uma relação complicada. Ele a provocava tanto que ela precisou "se fechar para se proteger das humilhações", o que acabou virando parte de sua personalidade misteriosa.

"Na banda, eu tentava ser o mais independente possível de Thurston para não sermos vistos como um casal superpoderoso", disse em um teatro cheio de mulheres. "Existia uma certa astrologia. Thurston é de leão, um cara instigador, mas se havia algo que ele não queria, era difícil mudar sua opinião", conta Gordon, que tem uma banda nova, a Body/Head, e uma exposição marcada para junho em Nova York.

GIRL IN A BAND
AUTORA Kim Gordon
EDITORA Harper Collins (importado)
QUANTO cerca de R$ 20 (e-book)

LEIA TRECHO

"Quando subimos ao palco para nosso último show, a noite era toda sobre os garotos. Thurston deu dois tapinhas no ombro de Mark Ibold e cruzou o palco, seguido por Lee Ranaldo, nosso guitarrista, e Steve Shelley, o baterista. Eu achei aquele gesto tão falso, tão infantil. Thurston tem muitos conhecidos, mas ele nunca conversava sobre coisas pessoais com seus novos colegas homens, e nunca foi do tipo que dá tapinhas no ombro. Era um gesto que gritava, eu estou de volta, eu estou livre, eu estou solo."


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