Folha de S. Paulo


Crítica: Contraste na iniciação sexual de personagens torna '50 Tons' belo

Vivo e respiro sexualidade todos os dias e, com todo respeito a Barbara Gancia, discordo da forma como ela interpretou e rotulou (avaliação do livro "50 Tons de Cinza" ("Ilustrada", 11/2, pág. E1).

A sua interpretação de que o filme é "sadismo politicamente correto" foi tendenciosa e, de forma irônica, até com certo ranço de moralismo, reduziu tudo a uma simplicidade fria e sem graça.

"50 Tons" é um dos livros mais lidos pelas mulheres e um dos filmes mais concorridos. Faça um teste nos horários mais nobres: salas quase que completamente lotadas diariamente. O domínio do macho alfa ainda impera em quatro paredes, me desculpem a liga das senhoras católicas e as feministas de carteirinha.

Sadismo entre um casal em que os dois consentem tem toda uma iniciação, não é só "trocar porrada".

Divulgação
Os atores Jamie Dornan e Dakota Johnson
Os atores Jamie Dornan e Dakota Johnson

Mas a regra única é: tem de ser respeitado o livre-arbítrio, a submissão é por opção, e no filme o personagem masculino vai levando Anastasia de uma forma gradativa a satisfazer a sua necessidade.

O ponto forte do filme é analisar a formação dos personagens, e é isso que lhe dá beleza. Christian Grey teve como mãe biológica uma prostituta viciada em crack, foi adotado por uma família rica e tradicional. A amiga da mãe adotiva o iniciou na vida sexual aos 10, de uma forma autoritária.

Anastasia Steele é virgem, de classe média, com uma mãe extremamente romântica, que se casou quatro vezes por amor. Cursa literatura na universidade e tem como modelo, no seu conceito de sexualidade, os valores românticos.

A beleza de cenas como ele tocando piano, o luxo da cobertura, as emoções do voo de planador, o prazer de dominar e de ser dominado e o choque dos valores tradicionais também fazem deste filme uma obra interessante.

Obs.: Assisti ao filme três vezes com três mulheres diferentes, com quem tenho amizade colorida. Elas não se conhecem e se lerem este texto vão saber do segredinho.

O ritual foi idêntico com as três: um jantar, onde eu comentava dos prazeres que senti ao ler o livro e que em partes me identifiquei com o Christian Grey e também com a parte romântica de Anastasia.

Após o filme, levei essas mulheres para minha cobertura, a noite foi maravilhosa, com emoções, ousadias, e o prazer de dominar e ser dominado.

Barbara Gancia, não fale de panetone ou violino se você nunca tocou um instrumento ou nunca fez um panetone.

CINQUENTA TONS DE CINZA
(Fifty Shades of Grey)
DIREÇÃO Sam Taylor-Johnson
PRODUÇÃO EUA, 2015, 16 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO muito bom


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