Folha de S. Paulo


Apesar de ter maniqueísmos, '118 Dias' evita ser panfletário

Uma vítima boa-praça e indefesa nas mãos da polícia de um regime político linha-dura é uma combinação na medida para o público que não resiste a dramas sobre injustiças. Junte-se a isso o apelo das histórias baseadas em fatos reais e está pronta a receita bem-sucedida de "118 Dias".

Em sua estreia na direção, o apresentador norte-americano Jon Stewart transpõe o relato pessoal de Maziar Bahari, jornalista canadense nascido no Irã.

Durante a cobertura que fazia das eleições iranianas em 2009, Bahari registrou em vídeo protestos contra a reeleição, suspeita de fraudulenta, do presidente Mahmoud Ahmadinejad e acabou sendo preso e torturado pelo regime durante meses sob a acusação de espionagem.

O material é o suficiente para um típico filme político, em que a denúncia da brutalidade e do autoritarismo se fortalece com a figura do jornalista como expressão do ideal de liberdade.

Na primeira parte de "118 Dias", Stewart dedica-se a replicar essa mistura de emoção e indignação aprendida na escola do thriller político de Costa-Gavras.

É no espaço da prisão, contudo, que o filme ganha força, ao representar em minúcias o duelo físico e psicológico entre torturador e refém e evocar exemplos do passado.

Por meio da representação do conflito numa relação que é antes de tudo de dominação, "118 Dias" consegue dar corpo a concepções opostas de crenças religiosas e ideologias sem usar apenas abstrações ou slogans.
Mesmo que siga à risca a cartilha do maniqueísmo, o filme evita ser apenas um panfleto contra os maus modos do atual regime iraniano e mostra que o vigor desse autoritarismo vem de uma história e de uma tradição.

118 DIAS
DIREÇÃO Jon Stewart
ATORES Gael García Bernal, Kim Bodnia, Dimitri Leonidas
PRODUÇÃO Estados Unidos, 2014, 14 anos
AVALIAÇÃO bom


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