O coreógrafo israelense nascido na antiga Bielorrúsia Arkadi Zaides, 35, se coloca entre a plateia e a zona de conflito –territórios da Cisjordânia ocupados por colonos judeus.
No palco, a região em disputa no Oriente Médio se materializa nas imagens projetadas em uma tela imensa.
São cenas do arquivo da B'Tselem, organização israelense de direitos humanos nos territórios ocupados.
| Jean Couturier | ||
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| O coreógrafo israelense Arkadi Zaides em cena do espetáculo 'Arquivo', que será apresentado na MITsp 2015 |
As imagens são reproduzidas no corpo do coreógrafo, revelando os movimentos da região. Zaides imita ações de colonos e soldados israelenses filmados por palestinos, que receberam da B'Tselem câmeras para registrar o dia a dia da ocupação.
No espetáculo "Arquivo", o que começa quase como uma brincadeira perversa de imitação cresce, ganha ritmo, intensidade e se transforma em coreografia.
A questão do conflito geopolítico, recorte temático da segunda edição da MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo), está condensada na obra que o israelense apresentará na próxima semana. Se não há a presença física dos dois lados conflitantes, o confronto é a razão de ser do próprio espetáculo.
"Minha arte é política, quero que as pessoas não só sejam tocadas pelo sentido estético da obra, mas que saibam o que está acontecendo lá, mesmo que não entendam a complexidade da situação", explica Zaides à Folha.
Ele conta que criou a coreografia pensando em três camadas. "A primeira é muito básica: a reação das pessoas ao encarar imagens que contêm um certo nível de violência. A segunda é a reprodução de movimentos que exprimem a violência nem sempre explícita do dia a dia. E a terceira é a escolha de replicar só os movimentos dos israelenses."
Esta última decisão foi usada para uma autorreflexão, diz. "Eu sou israelense e estou olhando ações da minha própria comunidade. Ao repeti-las, exponho o conflito íntimo de também ser parte e causa desta violência."
Para o artista, o efeito ultrapassa a intimidade e o seu corpo. O público também reproduz a tensão desses movimentos no cérebro –em que os chamados neurônios-espelho refletem automaticamente ações alheias, permitindo que sejam imitadas ou interpretadas.
O desconforto causado já fez com que pessoas saíssem no meio do espetáculo em apresentações em Israel e na Europa. E a postura política tem incomodado setores do governo e da sociedade israelense. No início deste ano, ativistas de direita tentaram impedir uma apresentação de "Arquivo" em Tel Aviv.
A apresentação acabou ocorrendo, mas Zaides diz sofrer outras pressões. "Há pessoas que estão tentando cortar as verbas que recebo para fazer meus trabalhos", conta o coreógrafo, que tem entre seus patrocinadores o governo de Israel.
ARQUIVO
QUANDO de 11 a 15/3, às 19h
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776
QUANTO grátis (retirada de ingressos duas horas antes do espetáculo)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
DEBATES
Palestina-Israel: com Arlene Clemesha, Sílvio Tendler e Maria Fernanda Vomero
QUANDO sáb. (14), às 11h
Ucrânia-Rússia: com Fabiano Mielniczuk, Vitorio Sorotiuk, Eduardo Jorge e Maria Fernanda Vomero
QUANDO ter. (10), às 10h
ONDE Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
QUANTO grátis (senhas distribuídas uma hora antes)
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