Folha de S. Paulo


Filhos contam vida de Paco de Lucía em documentário

Sentar-se com uma perna apoiada sobre o joelho pode ser um ato revolucionário. Foi com este simples movimento que o espanhol Paco de Lucía iniciou a maior mudança no mundo do flamenco, ritmo universalizado pelo músico, cuja morte, aos 66 anos, completou um ano nesta semana.

Detalhes como este, além de depoimentos inéditos de Lucía, são o foco de "Paco de Lucía, a Busca" (em tradução livre ao português), de Curro Sánchez, filme produzido pelos filhos do músico que na semana passada recebeu o prêmio Goya, o mais importante do país, na categoria de documentário.

Com estreia no Brasil prevista para o próximo Festival do Rio, o documentário já bateu recordes de venda na Espanha. Na carona do bom momento da indústria cinematográfica espanhola –em 2014, o setor teve recorde de público, com 23 milhões de espectadores, alta de 89% ante o ano anterior–, o filme já vendeu mais de 40 mil cópias desde que foi lançado, em setembro de 2014, no Festival de San Sebastián.

"Foi mais que qualquer um dos discos do meu pai", comentou, rindo, a produtora Lucía Sánchez, uma das cinco filhas do músico, durante um encontro com cerca de 30 personalidades da cultura e jornalistas de Madri, no qual a Folha esteve presente.

Divulgação
O violonista Paco de Lucía em foto tirada na década de 1980
O violonista Paco de Lucía em foto tirada na década de 1980

O bate-papo foi protagonizado também por seus irmãos Casilda Varela, produtora executiva do filme, e Curro Sánchez, diretor, editor e roteirista que passou três anos na cola do pai para realizar o documentário.

Além de uma extensa e inédita entrevista com Paco de Lucía, o filme conta com depoimentos de músicos como Carlos Santana, Alejandro Sanz e John McLaughlin, além de personalidades do flamenco, e esmiuça detalhes dos 50 anos de carreira do violonista, nascido em Algeciras, no sul da Espanha.

APOIO

Embora resistente no início, Paco de Lucía encampou o projeto e se tornou uma espécie de guia dos filhos.

A morte do pai, que sofreu um infarto no México, ocorreu quando o filme entrava na fase de edição. "O documentário passou a ser a última prioridade naquele momento, mas, ao mesmo tempo, era também uma última homenagem, e tínhamos assumido um compromisso", disse Curro Sánchez, que duas semanas após a morte do pai se fechou na ilha de edição para entregar o trabalho a tempo ao festival de San Sebastián, onde foi aplaudido de pé.

O músico, que nunca pressionou os filhos para seguir seus passos, chegou a assistir 45 minutos da fita e, segundo Curro, se emocionou com o resultado, em uma das poucas vezes que, segundo o filho, aprovou um trabalho.

Exigente e rigoroso consigo mesmo, estava constantemente insatisfeito, contaram os filhos. "Sua vida foi uma competição contra si mesmo", disse Lucía Sánchez. "Era uma batalha ele encontrar trechos de apresentações suas que ele considerasse perfeitas", destacou.

Mas o filme também revela o lado humano de Paco, que se dedicava a cuidar de animais e plantas e, surpreendentemente, ouvia pouca música. "Quando ouvia, era mais salsa, zumba e bachata, e dançava também."

"Ele também jogava futebol, mal, mas achava que era o melhor", contou Curro Sánchez, que disse ter se reaproximado do pai após anos de distanciamento por causa de shows e turnês.

"Eu me reencontrei com meu pai através desse documentário", declarou.


Endereço da página: