Folha de S. Paulo


Colecionador não renova contrato, e MAC Niterói fechará por três meses

"Prezados visitantes, informamos que o museu encontra-se temporariamente fechado à visitação por motivo de manutenção emergencial. O pátio e a loja do museu continuam abertos ao público. Lamentamos o inconveniente e agradecemos a compreensão. Direção."

O aviso, colocado no site do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, sinaliza os problemas que levaram o colecionador João Sattamini, 79, a não renovar seu contrato com a instituição. A informação foi divulgada na sexta (27) pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal "O Globo".

À tarde, o MAC informou à Folha que ficará fechado para reformas por pelo menos três meses.

O MAC, uma obra de Oscar Niemeyer situada em um morro de frente para a baía de Guanabara, foi criado pela Prefeitura de Niterói em 1996 justamente para abrigar a coleção Sattamini, com cerca de 1.400 peças de artistas como Lygia Clark, Franz Krajcberg e Hélio Oiticica.

O contrato do empréstimo das obras ao museu foi renovado pela última vez em 2010 e venceu "há cerca de 60 ou 90 dias", segundo Sattamini.

Clarissa Cavalheiro/Reuters
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, localizado no Mirante da Boa Viagem
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, localizado no Mirante da Boa Viagem

Apontando a má conservação do museu –cujo problema mais recente foi a quebra do ar condicionado, que levou ao fechamento ao público desde o último dia 13, segundo funcionários–, o colecionador decidiu não renovar o comodato.

"O contrato tem cláusulas a que eu devo me ajustar e a prefeitura também. Ela assumiu o compromisso de manter o museu bonito, limpo, e ele não está. Os tapetes estão rasgados, o ar condicionado pifou", diz o colecionador.

Ele afirma que sua atitude de não renovar foi menos uma decisão definitiva e mais uma maneira de pressionar o atual prefeito –Rodrigo Neves, 36, do PT– a "cumprir o contrato".

"Eu quero uma manifestação da prefeitura de que aquilo é importante para Niterói. Eu tenho longa milhagem em negociação, mas eles não fazem nada, o que indica que não estão interessados em manter o que é deles. Eles têm de se mexer."

REFORMA

O Museu afirma que enquanto estiver fechado fará uma "reforma inédita, que vai incluir, além do ar condicionado, várias outras melhorias, como a troca do piso, acessibilidade, nova iluminação etc." Essa reforma, diz a instituição, já estava prevista para a comemoração dos 20 anos do MAC em 2016.

Além disso, o museu diz que estuda construir nova reserva técnica numa área disponível no Museu do Ingá, também em Niterói, que teria cerca de 1200 m2.

Mas reconhece que, "com 18 anos sem um investimento, além da falta de vontade política para a construção de uma reserva técnica compatível com a importância da Coleção João Sattamini - MAC, desgastou-se, em muito, a relação do colecionador com a cidade".

RESERVA TÉCNICA

Em agosto passado, Sattamini já havia se queixado publicamente das más condições das reservas técnicas do museu, que acomodam suas obras –elas estariam abarrotadas, mal acondicionadas e sem seguro.

À Folha, disse que o problema no ar condicionado afeta também a climatização da reserva técnica, pondo em risco as obras.

Ele isenta de responsabilidade os funcionários do MAC. "As museólogas são ótimas, de uma dedicação tremenda. O diretor, coitado, chega a bater de porta em porta, mas está exausto."

O colecionador afirmou que já recebeu convites de instituições interessadas em abrigar sua coleção, mas não as nomeou. Citou como modelo a Pinacoteca de São Paulo ("É um primor de administração") e afirmou que espera "vontade política" da prefeitura niteroiense.

"Não quero assinar um novo contrato e manter a mesma situação. Não tem condição de levar mais quatro anos nessa enrolação."


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