Para um mochileiro viajando durante seis meses pela África, US$ 800 é uma fortuna, mas paguei sem pestanejar em 2008, para ver gorilas no Parc National des Volcans, em Ruanda, que faz fronteira com o Virunga, na República Democrática do Congo.
Famílias de gorilas —geralmente um macho grisalho, três ou quatro fêmeas e meia dúzia de adolescentes e crianças— circulam livremente entre os dois países.
Durante uma hora contada no relógio, grupos de até dez turistas podem visitá-los a poucos metros de distância, na companhia de guias especializados, na mata fechada.
Além de caro, é arriscado, já que gorilas não têm GPS e em algo como 20% das vezes a expedição resulta infrutífera. E não há reembolso.
Também é desconfortável andar durante horas em busca dos primatas e ainda ter de cumprir regras. Ao menor sinal de resfriado o turista é barrado, já que gorilas têm sistema imunológico frágil.
Os bichos geralmente estão acostumados com a presença de intrusos humanos e suas câmeras, mas algum às vezes se estressa e avança.
Virar as costas e correr é praticamente sentença de morte, e os guias se posicionam atrás dos turistas para evitar essa reação instintiva. A ordem é agachar lentamente em sinal de submissão, até o enfezado se acalmar.
Mesmo com tantos senões, ver gorilas de perto tem tudo para ser um negócio muito rentável. Em Ruanda, há fila de espera de semanas.
Mas no Congo a indústria gorileira patina. Essa parte do centro da África tem riqueza demais para seu próprio bem. Jazidas minerais gigantes atraem diversos interesses econômicos e militares.
Os Exércitos de Ruanda e Congo patrocinam grupelhos armados que brotam, desaparecem e ressurgem periodicamente, com o único interesse de pilhar e aterrorizar.
O M23, retratado no filme, é um bom exemplo. Foi um satélite ruandês que causou sensação ao tomar Goma, uma das portas de entrada do Virunga, em 2012. Hoje está sumido, e seus líderes se reciclaram em novos movimentos armados.
Goma, cidade congolesa com 1 milhão de habitantes, que visitei na mesma viagem, é uma aglomeração que resume o que de pior pode ter a África: calor, imundície, tensão latente e superlotação causada por ondas de refugiados ao longo de décadas.
Em ambiente assim, não há turismo que viceje. O que cresce é a tragédia do Congo, país riquíssimo e miserável.