Folha de S. Paulo


'Saturday Night Live' completa 40 anos com edição comemorativa

O presidente americano Gerald Ford nunca conseguiu se livrar da imagem de bobão desastrado após ser satirizado no humorístico "Saturday Night Live". Sarah Palin sofre do mesmo mal: é, talvez, mais lembrada pela imitação de Tina Fey no programa, em 2008, do que pela carreira política.

Sem causar tanta polêmica desde o retrato de Palin e sem os nomes de destaque de outrora –passando de Billy Crystal a Jimmy Fallon–, o humorístico mais longevo da televisão americana completa agora 40 anos fora do auge, mas ainda com prestígio.

"O clichê é dizer que o 'SNL' tem ficado pior. Mas as pessoas falam isso há 20 anos e o programa continua firme e repercutindo", diz o pesquisador de comunicação Michael Barthel, autor com Angela Abel, da Universidade de Washington, de um estudo sobre a influência do programa na política americana.

Desde a sua criação, em 1975, o humorístico exibido aos sábados à noite com um apresentador diferente e uma atração musical é marcado pela presença de esquetes de teor político, pautados pelo noticiário da semana.

Sua influência é tanta que os assessores da campanha do democrata Al Gore à presidência em 2000 pediram para que ele assistisse ao programa para descobrir como sua performance nos debates estava sendo avaliada pelo público.

"O que o 'SNL' faz é pegar uma opinião compartilhada, mas ainda não expressada publicamente e explicitá-la", diz Barthel. "A mídia informativa é limitada pela objetividade. Esses programas que misturam entretenimento e informação são fonte de opiniões que a mídia pode repetir."

O caso de Sarah Palin é simbólico: então concorrendo à vice-presidência dos EUA, teve desempenho ruim em uma entrevista na TV. A mídia culpou a campanha de John McCain –candidato republicano a presidente– pela má performance. Até Tina Fey ridicularizar Palin na televisão.

"Depois disso, a mídia passou a atribuir a apresentação pífia a Palin. Eles começaram a usar vídeos do 'SNL' como evidência de seu desempenho ruim", relembra Barthel.

Para Joe Saltzman, professor de comunicação da Universidade Southern California, o humorístico pode, por meio da ênfase e da repetição, tornar certos tópicos parte do debate nacional.

VERSÃO BRASILEIRA

No Brasil, uma versão encabeçada por Rafinha Bastos na RedeTV!, em 2012, naufragou após uma temporada. Do original, o brasileiro só herdou o horário noturno: ia ao ar aos domingos e era gravado.

Para Rafinha, todo humorista brasileiro que conhece um pouco da comédia americana admira o "SNL" e um dia pensou em fazer parte do programa. Segundo ele, porém, uma série de fatores fez com que sua empreitada falhasse.

Editoria de Arte/Folhapress

"A falta de recursos, minha inexperiência, o formato, a cobrança descabida de audiência e principalmente o fato de que a 'comédia ao vivo' é uma forma muito antiga de fazer TV aqui. O 'SNL' brasileiro já começou velho", diz.

Para Barthel, o formato do "SNL" tem potencial para fazer sucesso em qualquer lugar do mundo. "Mas deve ser baseado na cultura de cada país para ter êxito", opina.

É por isso, segundo Rafinha, que a versão original tampouco faz tanto sucesso no Brasil. "Poucos brasileiros sabem detalhes sobre a política de saúde do governo Obama para entender as piadas. É um programa que satiriza a cultura americana. Fica difícil a gente se conectar."

EDIÇÃO ESPECIAL

Uma edição especial em comemoração aos 40 anos, que será exibida neste domingo (15) no canal americano NBC, permanece envolta em mistério. Em entrevista à revista "Variety", o criador do programa, Lorne Michaels, 70, afirmou que membros de todas as gerações estarão presentes.

"Haverá uma mistura de elencos diferentes, pessoas que nunca trabalharam juntas antes", disse ele. Haverá também performances musicais ao vivo de Paul McCartney, Kanye West, Paul Simon "e mais dois ou três outros artistas grandes".

"A maior parte do elenco estará de volta junto a um número enorme de pessoas que apresentaram o programa. É como qualquer outra reunião", resumiu Michaels.

Entre os nomes garantidos está Eddie Murphy, que foi revelado no humorístico, do qual participou entre 1980 e 1984. "Ele talvez seja a maior estrela que saiu daqui", diz o criador. Jimmy Fallon, que deixou o programa em 2004 para ser apresentador de um "talk show" noturno, também aparecerá no especial.

No Brasil, a atual temporada do "SNL" estreia no dia 7/3 no canal Sony. O episódio especial de aniversário, que terá três horas de duração, não tem data para ir ao ar no país.

Polêmicas
Momentos controversos do 'SNL'

Papa é pop?
Em 3 de outubro de 1992, a cantora Sinéad O'Connor rasgou uma foto do papa João Paulo 2º e pediu ao público para que lutasse "contra o verdadeiro inimigo"

Dublagem malfeita
Em 23 de outubro de 2004, uma falha técnica deixou claro que Ashlee Simpson estava fazendo playback em suas músicas. Em pânico, ela saiu do palco

Segregação
O ator Kenan Thompson explicou em 2013 a falta de mulheres negras no elenco dizendo que "elas não estão preparadas". O programa foi acusado de racismo

Ira cristã
Christoph Waltz interpretou em 2013 um Jesus vingativo e violento. Grupos cristãos consideraram o quadro desrespeitoso com a religião

Os Melhores Esquetes Piadas Que Entraram Para A História Da TV

Little Chocolate Donuts (1977)
Os biscoitos de chocolate consumidos pelo atleta olímpico (John Belushi) ficaram famosos como os "donuts dos campeões". O produto era vendido em um dos inúmeros esquetes que parodiam comerciais da TV americana

Samurai Delicatessen (1975)
Durante uma madrugada, as lanchonetes já fecharam e John Belushi, na pele de um samurai cozinheiro, está comprometido em fazer um sanduíche para seu cliente. Para isso, usa as técnicas das artes marciais e sua afiada espada

White Like Me (1980?)
Eddie Murphy decide fazer um experimento social e enfrentar as ruas de NY como um americano branco. Como resultado, recebe jornais de graça e descobre que passageiros bebem champagne em ônibus municipais

More Cowbell (2000)
O esquete cunhou o bordão "mais cowbell" (instrumento semelhante ao sino de vaca). Nele, Christopher Walken, na pele do produtor The Bruce Dickinson, exige que o instrumento seja realçado em uma sessão de gravação

Celebrity Jeopardy! (2002)
"Você é islandesa ou retardada?", pergunta o apresentador (Will Ferrell) do quiz show, paródia regular na grade, a uma Winona Ryder transfigurada em Björk. No quadro, celebridades respondem a perguntas fáceis

Dick in a Box (2006)
O clipe musical protagonizado por Andy Samberg ao lado de Justin Timberlake estourou no YouTube. Samberg mais tarde deixaria o "SNL" para se dedicar a seu grupo de hip hop humorístico The Lonely Island

Tina Fey como Sarah Palin (2008)
A semelhança tornou inevitável: Tina Fey, que já havia deixado o "SNL" há dois anos e se dedicava a série "30 Rock", teve que voltar ao programa para personificar a republicana candidata a vice-presidente nas eleições

The Barry Gibb Talk Show (2013)
Mais um com Justin Timberlake: o cantor pop e Jimmy Fallon são os irmão Barry e Robin Gibb, dos Bee Gees, apresentando um "talk show". Em 2013, o esquete teve a participação do verdadeiro Barry e Madonna


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