Folha de S. Paulo


Desenvolvido por Neil Young, PonoPlayer é vendido por US$ 400

De cara, o PonoPlayer parece um objeto amarelo não identificado. Seria algo dos anos 90? A cor traz memórias de infância, como o walkman clássico da Sony de mesma cor. E o formato triangular lembra um bloco de brinquedo, de textura emborrachada gostosa de pegar, mas que não cabe nos bolsos da calça.

A mágica acontece quando o fone de ouvido é conectado: Mick Jagger canta um clássico, e o baixo e a percussão soam limpos e fortes. Dá vontade de fechar os olhos e derreter na poltrona.

Pono parece mesmo uma viagem. Mas é uma viagem cara e que não para nos US$ 400 (R$ 1.000) a serem gastos pelo aparelho, um tocador digital desenvolvido por Neil Young, à venda há algumas semanas nos EUA.

PSICOLÓGICO

Para valer a pena, é preciso ter arquivos de altíssima resolução, mais caros que os MP3s, o formato mais popular para quem baixa música (canções compradas no iTunes não podem ser migradas).

Robert Galbraith/Reuters
Young ao lado de seu Loncoln 1959, que funciona a gás natural e eletricidade
Young ao lado de seu Loncoln 1959, que funciona a gás natural e eletricidade

Mesmo CDs comuns ficam aquém das resoluções mais potentes para as quais Pono foi feito (como arquivos FLAC de 192 kHz/24-bit contra os de 44.1 kHz/16-bits dos CDs), vendidas no próprio site do aparelho ou em lojas como HDtracks.com. Além disso, é preciso ter fones de ouvido bem bons. Tudo fica mais caro para os não iniciados.

E vale a pena? Para quem não é profissional, a diferença de som é quase psicológica. Afinal, quem quer admitir que não distingue um MP3 de um FLAC? Confesso que, de orelhada, achei superdiferente, mas então comparei o Bob Marley do Pono com o Bob Marley do iPod e fiquei na dúvida. Não senti mudança.

Mais tarde entendi: ambos arquivos tinham quase a mesma qualidade (o site do Pono informa as resoluções e poucos álbuns estão disponíveis no padrão mais alto). Ouvindo Rolling Stones ao vivo, deu para perceber mais sutilezas, embora nada gritante.

Para audiófilos, US$ 400 pode até ser pechincha. A Sony lança neste semestre um walkman digital por US$ 1.120.

Young passou dois anos trabalhando no Pono, numa empresa do qual ele é CEO e cofundador ao lado de um empresário do Vale do Silício.

Em 2014, uma campanha on-line para a produção do aparelho levantou mais de US$ 6 mi (a expectativa era US$ 800 mil) e teve entre os investidores Bruce Springsteen.

Não é a primeira tentativa de Young de abrir nossos ouvidos para a pureza do som. Desde o surgimento do CD, o canadense torcia o nariz para novidades digitais. Em 1986, foi um dos investidores da Pacific Microsonics, criadora do HDCD, um CD melhorado. Em 2000, a Microsoft comprou a firma e depois parou de investir na tecnologia.


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