Folha de S. Paulo


Desenquadrados no carnaval, fãs de rock criam suas opções para o feriado

Entediados com as marchinhas que há décadas desciam as ruas de Pedralva, sul de Minas, um grupo de adolescentes decidiu criar uma alternativa, dedicada a um som avesso ao Carnaval.

Assim surgiu em 1998, na rua, o Carnawall: o mesmo feriado, mas com trilha sonora psicodélica. Há 18 anos, antes da Quarta-Feira de Cinzas chegar, fãs de Pink Floyd se reúnem na pequena cidade para ouvir o som de bandas cover do grupo inglês.

O evento cresceu tanto que hoje a concentração do Bloco do Pink Floyd começa em um clube fechado, e as entradas são compradas pela internet (blocodopinkfloyd.com). O ingresso é uma camiseta temática, geralmente estampando a capa de um álbum da banda —a deste ano, o novo disco, "Endless River".

Em determinado momento do evento, a multidão reunida no clube sai pelas ruas com seus abadás roqueiros, acompanhada da Charanga Santo de Casa, grupo formado por músicos locais. No palco central, montado no centro histórico de Pedralva, entoam o clássico pinkfloydiano "Another Brick in The Wall", encerrando o Carnaval da cidade.

"Deu certo porque é feito para um público que não tinha alternativa", diz o professor de biologia Giovany Faria, 33, um dos fundadores. "Acaba sendo um encontro de fãs, pessoas que você conhece só pela internet."

Mas segundo Giovany, o Carnawall não mistura estilos: "o batuque é pra levar a massa".

Aos moldes da iniciativa, blocos dedicados ao rock se espalham pelo país em meio aos foliões convencionais.

Um dos mais populares atualmente, o carioca Sargento Pimenta, fez dos Beatles samba-enredo. No último sábado (7), tocando em São Paulo, levou uma multidão de mais de 100 mil pessoas a cantar "Hey Jude" como se Paul McCartney tivesse feito a fama do topo de um trio elétrico.

"Eu não era um cara que frequentava blocos. Sou muito mais público de show de rock. Se as pessoas que criaram o bloco tivessem uma vivência intensa de Carnaval, não teriam feito uma coisa diferente", diz Felipe Fernandes, 28, que toca no Sgto Pimenta.

Em Olinda, desde 2008, um grupo de músicos da região faz frente às troças de frevo.

Autoproclamado o "melhor bloco parado do Brasil", lança mão de uma orquestra de 15 pessoas equipadas com trompete, tuba, trombone, sax e barítono —para tocar Black Sabath, Nirvana, Beatles e Rolling Stones.

Nos sábados de Carnaval, em frente ao mosteiro São Bento, é possível ver foliões transfigurados em Freddie Mercury, Van Harley e Michael Jackson acompanhando as inusitadas melodias.

"Os turistas americanos, alemães, simpatizam na hora, porque reconhecem a música", conta Gilberto Oliveira, 37.

Em São Paulo, o Bloco 77, quando não transforma o punk em marchinha, faz dela um punk carnavalesco, cantando variações do gênero "Mamãe Eu Quero Pogar" (dança punk que consiste em bater cabeças). O grupo desfila na sexta (13) e no domingo (15), saindo do Largo da Batata (Pinheiros).

ROCK DE CARNAVAL
Bloquinhos roqueiros

São Paulo

13/2 e 15/2 - Bloco 77 - Os Originais do Punk
(r. Cardeal Arco Verde com r. Simão Alvares, 20h e 15h)
> Revezam punks nacionais, como Ratos de Porão, em ritmo carnavalesco, e marchinhas tradicionais com letras modificadas, a exemplo de "Mamãe Eu Quero Pogar"

13/2 - Ritaleena
(Estúdio do Morro, r. Padre Justino, 593, 23h30, R$ 20)
> Rock'n'roll, metal e frevo em homenagem a Rita Lee

Rio de Janeiro

15/2 -Thriller Elétrico
(Praça Barão de Drumond, 9h)
> Repertório de Michael Jackson como samba, funk e ciranda

16/2 - Bloco Sargento Pimenta
(Aterro Flamengo, 15h)
> Canções épicas dos Beatles transformadas em marchinhas

Olinda
14/2 - Tá bom, a gente Freva
(Mosteiro de São Bento, 14h)
> Nirvana, Black Sabbath e outros clássicos como frevo, com direito a foliões a caráter

Pedralva (MG)
17/2 - Bloco do Pink Floyd
(Parque de Exposições, r. Juvenil Geraldo Teixeira, 264, a partir das 14h, R$ 40; Praça Central, 22h30)
> Há 18 anos organizam o Carnawall, que encerra o feriado ao som de Pink Floyd, com breve acompanhamento da Charanga Santo de Casa


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