Folha de S. Paulo


Historiador diz que Lampião foi estilista

Um dos primeiros estilistas brasileiros teria sido um matador frio, que andava com um facão a tiracolo e um bando de pistoleiros exímios alfaiates e bordadeiros, assim como seu capitão.

Registros fotográficos de Benjamim Abrahão (1890-1938) da década de 1930, relatos de um ex-cangaceiro ao historiador Frederico Pernambucano de Mello e passagens do livro "Lampião: Memórias de um ex-oficial das Forças Volantes" (1953), de Optato Gueiros, dão conta que o "rei do cangaço" fora uma espécie de diretor criativo nos tempos sangrentos do sertão no século 20.

"Pouco se sabe sobre o início da vida de Lampião, mas Gueiros conseguiu relatos contundentes de sertanejos que afirmaram que, antes de ser cangaceiro, Virgulino Ferreira da Silva fora um alfaiate de couro do Pajeú (Pernambuco), que já fazia sucesso em importantes feiras das cidades de Serra Talhada e Floresta aos 14", explica Pernambucano de Mello.

Em entrevista ao historiador, um dos subchefes de Lampião, Manoel Dantas Loiola (o "Candeeiro", morto em 2013), afirmou que o cangaceiro e sua mulher, Maria Bonita, desenhavam croquis com ilustrações para os chefes do bando bordarem nas bolsas (bornais) e na indumentária dos subalternos.

"O alto escalão do cangaço era escolhido por Lampião também pela destreza com a agulha. Ao bordar para um dos seus soldados, o chefe da célula estaria lhe acolhendo no bando", diz a historiadora Ivania Vallin.

No livro "Estrelas de Couro: a Estética do Cangaço" (Ed. Escrituras, 2011), Pernambucano expõe duas fotos reveladoras sobre a importância da moda para os cangaceiros. A primeira é uma de Lampião costurando em sua máquina Singer (veja acima). Datada de 1936, a imagem é do fotógrafo Benjamim Abrahão. "

A segunda foto mostra as cabeças dos cangaceiros decapitadas ao lado de importantes signos para o bando: roupas, adereços e duas máquinas de costura.


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