Folha de S. Paulo


Americano mantém casa dedicada a Bob Marley, que completaria 70 anos

Roger Steffens liga o som, e Bob Marley, que faria 70 anos nesta sexta (6), canta uma bossa nova inédita. Peter Tosh ri numa foto, enquanto a voz de Bunny Wailer descansa em 60 horas de fitas com entrevistas exclusivas.

A casa de Steffens em Los Angeles é uma meca do reggae, com seis quartos dedicados a sua coleção de mais de 40 anos, que já recebeu visitas de Keith Richards e foi base de livros e documentários.

Entre caixas com 1.500 camisetas, paredes com 4.000 broches e gavetas lotadas com 30 mil flyers do mundo, Steffens guarda o maior arquivo de gravações do grupo The Wailers, banda criada pelos três jamaicanos (Marley, Tosh e Wailer) em 1963.

Roger Steffens/Arquivo Pessoal
Bob Marley em 1979 em foto tirada pelo americano Roger Steffens
Bob Marley em 1979 em foto tirada pelo americano Roger Steffens

O americano de 72 anos, respeitado especialista em Marley, foi essencial na difusão do reggae nos EUA, como cofundador de um show de rádio e uma revista, além de presidir por 27 anos o comitê do gênero no Grammy.

Do seu caos organizado, Steffens conta que as joias são duas fitas de dez polegadas que achou na casa da mãe de Marley em Miami, em 1989. Há mais de uma hora de músicas inéditas, incluindo a bossa nova "Pray for Me" –especula-se que foi gravada após sua visita ao Brasil, em 1980, um ano antes de sua morte.

"As fitas estavam em pedaços. Achei um engenheiro de som que tinha uma máquina antiga para tocá-las. Começamos a ouvir e logo estávamos com lágrimas nos olhos", disse Steffens à Folha.

Os arquivos de Steffens, avaliados pelo Grammy Museum em US$ 3,2 milhões, estão à venda, mas só para quem garantir mantê-los reunidos e abertos ao público. Sua vontade é que ficassem na Jamaica, embora saiba que o país não cuida das raízes culturais.

"O reggae na Jamaica foi substituído pelo grosseiro dancehall, homofóbico, misógino, que celebra homens armados. São estrangeiros que mantêm o reggae vivo", afirma, citando Alborosie (Itália), Gentleman (Alemanha) e Mighty Crown (Japão).

Outra curiosidade da coleção é um pôster do show de Marley em Berkeley, assinado por 39 pessoas –filhos, integrantes de banda e amigos.

O próprio Marley foi o primeiro a autografar, quando Steffens o encontrou pela primeira vez, em 1978. "Fui ao backstage e parecia convenção de zumbis, todos quietos em volta da mesa, cada um com seu montinho de erva. Bob parecia muito chapado."

O americano conta que fumou maconha na presença de Marley, quando o acompanhou numa turnê nos EUA.

"Bob teve sorte de morrer quando morreu porque sua reputação ficou intacta. Anos mais tarde e ele não seria a figura que reverenciamos", diz Steffens, conhecido pelas fotos psicodélicas que tirou ao longo da vida, reunidas neste ano no livro "The Family Acid" (ed. SUN Editions).


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