Folha de S. Paulo


Análise: Linda e engajada, atriz ajudou a modernizar o teatro brasileiro

Atriz engajada, próxima da militância comunista, Maria Della Costa falava com orgulho de ter nascido pobre e passado fome, no interior do Rio Grande do Sul.

De trajetória singular, foi também manequim e, em uma palavra, linda, sendo retratada por Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e Brecheret, entre outros.

Mas a origem "na roça" marcou as peças mais significativas, que por sua vez compõem uma história paralela do teatro brasileiro moderno.

Fossem outros os autores da história do teatro brasileiro moderno, como estabelecida até hoje, a primeira-dama seria ela, não Cacilda Becker. O próprio Zé Celso, autor e diretor das peças "Cacilda", não esconde que preferia Maria Della Costa no palco, sublinhando seu talento e beleza, mas também o repertório.

Ela começou adolescente no palco, mas o ano em que ajudou a mudar a história foi 1948. Aos 22, com o produtor Sandro Polônio e a atriz e diretora Itália Fausta, criou a primeira companhia profissional moderna no Brasil.

O Teatro Popular de Arte (TPA), no Rio, precedeu o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), de São Paulo, e foi seu rival por duas décadas.

Como escreve Tânia Brandão em "Uma Empresa e seus Segredos: Companhia Maria Della Costa" (Perspectiva, 2009, 458 págs.), "o namoro de Polônio e Maria com o Partido Comunista, que já estivera em pauta com Fausta, será uma nota persistente em suas carreiras".

O TPA -que depois foi rebatizado como Teatro Maria Della Costa- já estreou com "Anjo Negro", um libelo de Nelson Rodrigues -talvez seu texto mais político- contra o racismo, dirigido por Ziembinski (1908-1978).
O auge da companhia começa em 1954, com teatro próprio em São Paulo.

Em 1958, ela protagoniza "A Alma Boa de Set-Suan", na primeira montagem profissional de Brecht no país. No ano seguinte, é a vez de "Gimba", de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006).

Apesar ou por causa da concorrência do Teatro Popular de Arte, a atriz teve só uma breve passagem pelo Teatro Brasileiro de Comédia, num instante de engajamento da companhia reconhecidamente elitista, na montagem de "Ralé", de Górki, em 1951.

Durante o regime militar, sua militância e repertório levaram à crescente pressão não só da Censura, mas da repressão. Uma visita e elogios que fez à União Soviética nos anos 50 foram lembrados.

Ela vendeu seu teatro e se mudou de São Paulo no início dos anos 1970, mas não deixou de atuar. Seu último espetáculo foi "Típico Romântico", de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, em 1992. De maiô no palco, era ainda linda.


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