Em 1959 a revista "Life" pediu ao escritor americano Ernest Hemingway para escrever uma reportagem sobre a temporada de verão das touradas espanholas. O convite era uma tentativa de reedição de um projeto que já tinha dado certo oito anos antes.
"O Velho e o Mar", que lhe rendeu o Prêmio Nobel em 1954, tinha sido publicado em 1º de setembro de 1952 na revista, antes de sair em livro, e vendido, em dois dias, mais de 5 milhões de exemplares.
Além disto, o primeiro romance de Hemingway, "O Sol Também se Levanta" (1926), tinha como pano de fundo touradas. Nada mais lógico, portanto, do que enviar Hemingway, 33 anos depois, de volta para o cenário onde tinha vivido e escrito durante parte de sua juventude.
O resultado desta parceria foi o romance-reportagem (bem mais reportagem do que romance) "O Verão Perigoso". Nele, Hemingway acompanha o jovem toureiro Antonio Ordoñez e seu rival Luis Miguel Dominguín durante dois meses em dezenas de touradas.
A narrativa é uma sucessão de viagens através das paisagens espanholas, cenas de bastidores do "mundo-touradas" e de intrigas e disputas entre os então mais conhecidos toureiros da Espanha.
Mas "O Verão Perigoso" descreve, sobretudo, incontáveis touradas com seus finais sempre violentos onde o touro é irremediavelmente morto pelo seu algoz com golpes certeiros e cruéis.
E são exatamente nestas passagens de enfrentamento entre touro e toureiro que reside a singularidade e a força do relato de Hemingway. A sua linguagem para descrever estas cenas tangencia a pintura e parece mover o escritor a um desafio de melhorá-la a cada vez que este enfrentamento se repete.
Mas o fato é que estas cenas repetem-se em demasia e acabam tornando-se monótonas e exaustivas. Nas raríssimas vezes em que os toureiros são atingidos pelos touros, "O Verão Perigoso" parece ganhar uma sobrevida.
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As viagens entre uma cidade e outra poderiam oxigenar o relato. Mas parece que ele preferiu seguir à risca a pauta da revista e é perceptível a forma superficial como são descritas estas viagens.
Outro elemento que parece vagar sem sentido pelo livro é sua mulher, Mary. Sempre às voltas com alguma doença e sem direito a nenhum diálogo, Hemingway abre o capítulo nove com uma alusão a ela. "Pamplona não é lugar para se levar esposa. Todas as circunstâncias contribuem para que ela adoeça, fira-se ou se machuque (...)."
"O Verão Perigoso", enfim, está muito aquém do Hemingway de, por exemplo, "O Velho e o Mar". E foi, infelizmente, o último e melancólico suspiro do grande escritor.
O VERÃO PERIGOSO
AUTOR Ernest Hemingway
EDITORA Bertrand Brasil
TRADUÇÃO Ana Zelma Campos
QUANTO R$ 35 (266 págs.)
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