Folha de S. Paulo


Inácio Araujo: Indicações ao Oscar foram previsíveis

Como todos os anos, o Oscar tem algumas barbadas, que não raro se confirmam.

Em filme e direção, este ano, o filme falado é "Boyhood: Da Infância à Juventude", de Richard Linklater.

Suas possibilidades são amplas por ao menos dois motivos: o primeiro, a simpatia de que desfruta o cineasta junto aos seus pares, isto é, os eleitores. O segundo, o fato de ter feito mais um trabalho de longo prazo (acompanhando por anos o crescimento de uma criança/adolescente), portanto fora dos padrões comerciais. Embora viva de filmes comerciais, a comunidade hollywoodiana admira profundamente seu inverso.

Com todo respeito, acho o filme de Linklater uma chatice. Ele é razoavelmente controlado. Não de todo, porque ao longo dos anos de filmagem existem inesperados com os quais lidar (o making of de um filme dessa natureza dever ser mais interessante do que o filme). Mas ali há um roteiro, atores, representação, tudo o que se queira.

Claro, essa é uma percepção bem provisória, pois há inúmeros filmes ainda por estrear por aqui e que não passaram nem na Mostra SP (a do Rio eu não acompanhei). Mas, entre os indicados, pode-se dizer que quem não entra ao mesmo tempo na lista de "melhor direção" e "melhor filme" tende a fazer figuração nas duas categorias.

Assim, simplificando as coisas: "Whiplash", "Sniper Americano", Selma", assim como Bennett Miller na direção têm chances remotíssimas de ganhar nessas duas categorias. E, é preciso não esquecer, incluir Wes Anderson e o "O Grande Hotel Budapeste" na competição (embora eu tenha achado o filme um tanto inferior a outros do cineasta, mas vi o filme no avião, isso pode causar distorções na observação) é um avanço enorme: trata-se de um cineasta original, com uma marca efetiva e um sentido de humor original e nada conformista.

Entre atores, no entanto, o "Foxcatcher" de Miller tem chance, com Steve Carell, realmente muito forte, embora enfrente a concorrência de Benedict Cumberbacht, que, para começo de conversa, é inglês.

A intuição e a história levam a pensar em Julianne Moore como melhor atriz. Primeiro, porque é uma atriz de primeira linha: já foi indicada duas vezes para o prêmio, é do tipo topa-tudo (faz qualquer tipo de papel) e, desta vez, faz uma mulher afetada por Alzheimer. Esse tipo de papel, por alguma razão misteriosa, não perde Oscar nem a pau.

Das atrizes que vi até agora, em filmes de 2014, quem mais me impressionou foi Mia Wasikowska, em "Mapa para as Estrelas". Mas David Cronenberg é desses que não passam nem na porta do Oscar, o que mostra o tipo de independência que os votantes do Oscar apreciam.

Por fim, uma palavra para os nossos velhos amigos, os filmes "em língua estrangeira" (isto é, não em inglês): do que vi, o russo "Leviatã" me parece ter mais chance do que o argentino "Relatos Selvagens" por ser mais imediatamente político (contra Putin, ainda que indiretamente). Pensei que "Força Maior", do sueco Ruben Östlund, seria indicado. Como não raro, quando se trata de Oscar, fiquei desapontado.


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