Folha de S. Paulo


Mostra remonta arena de oprimidos de Augusto Boal

O diretor Sérgio de Carvalho, da Cia. do Latão e professor da USP, passou os últimos meses em meio a cartas amareladas, fotos em preto e branco e textos inéditos de teoria deixados pelo dramaturgo e diretor Augusto Boal (1931-2009).

No dia 29 de janeiro, entra em cartaz "Os que Ficam", uma "peça-ensaio" escrita e dirigida por Carvalho, parte de uma programação maior em torno do diretor do Teatro de Arena e do Teatro do Oprimido no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.

O Projeto Boal começa nesta quarta (14) com uma exposição de parte do acervo do diretor, doado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. A organização dos documentos já terminou, revelando material até aqui desconhecido, sobretudo dos anos 1970.

Instituto Augusto Boal
Augusto Boal na Universidade Columbia, em Nova York, nos anos 1950
Augusto Boal na Universidade Columbia, em Nova York, nos anos 1950

O cenógrafo Hélio Eichbauer, curador da exposição, recriou no CCBB o apartamento de Boal no Rio, com sua máquina de escrever, livros, obras de arte popular. O material do acervo, além da mostra, está servindo também de base para "Os que Ficam".

Carvalho busca retratar na peça o "momento de desagregação" do teatro brasileiro no início da década de 1970, com a inviabilização das peças pela censura, diversos artistas se voltando para a televisão e outros enfrentando tortura e exílio.

É o caso do dramaturgo de "Os que Ficam", que remete a Boal e será representado por Nelson Xavier, que foi do Arena. A peça usa fragmentos de textos como a peça "Revolução na América do Sul" e a autobiografia "Hamlet e o Filho do Padeiro".

Na visão de Carvalho, aquele momento é "chave", porque o teatro épico buscado por Boal e outros é sufocado pela repressão política, que o afasta do público, e se aprofunda a "mercantilização" da cultura e das artes no país.

CONEXÕES

Sobre Boal, diz que o mergulho no acervo confirma como "ele é emblemático da geração que tentou converter sonho em prática", com sua grande marca sendo "a capacidade de fazer conexões, arte e política, teatro e vida, sempre na passagem".

O Arena concentra muito da atenção do Projeto Boal, encabeçado por Cecília, viúva do diretor e ex-atriz do próprio Arena. Este "foi ficando um pouco para trás" na memória do país, acredita ela, em relação ao persistente Teatro do Oprimido.

Lembrando ter lido recentemente um post de Facebook que descrevia o diretor como "esquerda caviar", o que ela credita à falta de informação, Cecília diz que o projeto serve também para "passar aos mais jovens" o que foi a trajetória de Boal.

A programação, que inclui filmes, leituras dramáticas e show, se estende até 16 de março. No dia 13 de fevereiro, Cecília, Carvalho e outros realizam uma leitura da correspondência inédita, sobretudo do exílio, de Boal com a família e parceiros como Chico Buarque.

PROJETO BOAL
QUANDO de qua. a dom., das 9h às 21h (exceto terça-feira)
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, r. Primeiro de Março, 66, Rio, tel. (21) 3808-2020
QUANTO grátis


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