Folha de S. Paulo


Análise: Memorável 'Boyhood' vence Globo de Ouro pouco memorável

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) não gosta de polemizar na noite de seu grande prêmio, distribuindo troféus para todos os lados. Mas nem o Globo de Ouro conseguiu resistir ao fenômeno indie "Boyhood - Da Infância à Juventude", que foi o grande vencedor da premiação realizada neste domingo (11), no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles.

O drama sobre a infância de um garoto (Ellar Coltrane), filmado ao longo de 12 anos, saiu da noite com três prêmios principais, melhor filme dramático, diretor para Richard Linklater e atriz coadjuvante para Patricia Arquette.

Apesar de não influenciar na escolha dos indicados ao Oscar, já que a votação foi encerrada na semana passada, o Globo de Ouro foi significante para mostrar que "Boyhood" tem força para sair do gueto dos críticos e alcançar uma maior popularidade –muitos especialistas diziam que a produção não tinha "cara de Oscar" suficiente para sobreviver à época das premiações. Eles erraram.

Após este domingo, o filme independente vira a grande barbada para o Oscar de melhor filme. "Birdman", que parecia ter ganhado força no fim do ano, foi o grande perdedor, mesmo levando o Globo de roteiro e ator –Michael Keaton, agora favorito oficialmente ao Oscar.

"O Grande Hotel Budapeste", por outro lado, estava meio esquecido no meio do hype por "Selma" e "O Jogo da Imitação" e terminou escolhido como melhor filme comédia ou musical. Neste momento, a HFPA decidiu lembrar sua tendência de espalhar prêmios e não premiou o preferido "Birdman", do mexicano Alejandro González Iñárritu.

Também com dois prêmios, "A Teoria de Tudo", cinebiografia do cientista Stephen Hawking, ganhou mais visibilidade: venceu em trilha sonora e Eddie Redmayne levou como melhor ator dramático –nada que preocupe Keaton. Julianne Moore confirmou seu favoritismo na categoria de melhor atriz dramática por "Para Sempre Alice" e deve repetir o feito no Oscar –Amy Adams ganhou como melhor atriz em comédia ou musical por "Grandes Olhos", de Tim Burton, mas era uma categoria com pouca força.

Na categoria de coadjuvante, nenhuma surpresa novamente. Além de Patricia Arquette, J.K. Simmons levou pelo papel em "Whiplash". Ambos devem retornar facilmente para disputar um Oscar.

Mas existiram surpresas. Além de George Clooney discursar de forma romântica, dizendo-se "orgulhoso" da sua mulher, ao receber o prêmio pelo conjunto da obra, o polonês "Ida" perdeu como melhor filme estrangeiro para o russo "Leviatã". Além disso, "Uma Aventura Lego" não levou como melhor animação, superado por "Como Treinar Seu Dragão 2".

No geral, o Globo de Ouro foi pouco controverso. Alguns atores (Jared Leto, Clooney) fizeram menções aos ataques da semana passada em Paris, o presidente da HFPA discursou em nome da liberdade de expressão. Tina Fey e Amy Poehler conduziram um discurso inicial muito centrado em piadas internas de celebridades antes de partir para atingir Bill Cosby, comediante que sofre diversas acusações de estupro.

Mas o momento mais engraçado certamente foi quando o ator Jeremy Renner ("Os Vingadores") apresentou um prêmio ao lado de Jennifer Lopez, que usava um vestido superdecotado. Ele não conseguiu abrir o envelope com os ganhadores de minissérie e filme para TV e passou para a cantora e atriz. "Eu tenho as unhas", disse Jennifer. "E você também tem os globos", completou o ator olhando para os seios da colega.

Um momento memorável de uma noite que não vai ficar na memória.


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