Folha de S. Paulo


Crítica: Com um pé no passado, obra dá instruções sobre como virar crítico

Sábato Magaldi, que começou na crítica teatral em 1950, Barbara Heliodora, em 1958, e Jefferson Del Rios, em 1969, publicam uma pequena, mas útil introdução, quase um manual, em "A Função da Crítica". Listam instruções básicas como, de Heliodora: "Leiam Aristóteles".

O carro-chefe é o texto de Magaldi, já publicado antes e cujo título é aproveitado na nova edição –e que, curiosamente, tem até trecho reproduzido por Del Rios. Dá três tarefas ou "funções" para a crítica jornalística: detectar a proposta da peça, julgar sua qualidade e, se houver, salientar sutilezas.

Acrescenta que deve ser escrita com clareza, honestidade e conhecimento da história teatral. De maneira geral, o livro ecoa uma vez mais a modernização conservadora do teatro brasileiro, que priorizou a dramaturgia sobre a encenação, típica de São Paulo e de Décio de Almeida Prado (1917-2000).

Em passagem representativa, Prado é descrito por Magaldi como "mestre de todos que o secundaram".

Mas o modelo de crítica e seus desafios, como tratados no livro, ficaram para trás num cenário de jornalismo e teatro hoje marcado –sem retorno– por internet e mídia social.

Em 2014, ao completar 90 anos, Heliodora afirmou que a crítica jornalística vinha desaparecendo junto com os jornais.

Na verdade, a crítica não parou de crescer, assim como o extenso debate em torno dela, agora também em sites pelo país como "Satisfeita, Yolanda?", "Horizonte da Cena", "Questão de Crítica", "Teatrojornal". Enfrenta questões novas quanto a "funções", leitorado, financiamento e sobretudo independência.

Os desafios da crítica teatral, hoje, espelham aqueles do próprio jornalismo. E confirmam que, mais do que membros e até defensores da classe teatral, como escreve Magaldi, os críticos são antes de mais nada jornalistas.

A FUNÇÃO DA CRÍTICA
AUTORES Barbara Heliodora, Jefferson Del Rios e Sábato Magaldi
EDITORA Giostri
QUANTO R$ 30 (96 págs.)
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: