Folha de S. Paulo


Mostra de Sganzerla resgata 'Copacabana Mon Amour'

"O Terceiro Mundo vai explodir. Quem tiver sapato não sobra", berra um anão que esperneia no filme "O Bandido da Luz Vermelha" (1968).

A partir desta quinta (8) até domingo (11), o Museu da Imagem e do Som exibe mostra com seis longas dirigidos por Rogério Sganzerla (1946-2004), incluindo "O Bandido".

Também estão programados debate sobre sua obra e lançamento de DVD restaurado de "Copacabana Mon Amour" (1970).

Figura central do cinema brasileiro, o diretor catarinense levou às telas os anti-heróis desse Terceiro Mundo: de prostitutas com desejos de se tornarem cantoras de rádio a larápios da Boca do Lixo.

Para parte da crítica, Sganzerla foi a antítese de Glauber Rocha e do cinema novo, que o primeiro apoiou no início mas depois criticou por ter "abandonado a radicalidade".

Divulgação
Créditos: Divulgação Legenda: cena do filme
A atriz Helena Ignez em cena de 'Copacabana Mon Amour', de Sganzerla

"Na verdade, são parecidos: são ambos barrocos. Mas Glauber era líder de um movimento. E Rogério, mais solitário", diz o documentarista Joel Pizzini, diretor de "Mr. Sganzerla" (2011), sobre o cineasta.

Pizzini participa de debate sobre a obra do homenageado no dia 10, com a atriz Helena Ignez, viúva de Sganzerla, e os críticos Ruy Gardnier e Inácio Araujo, este da Folha.

Na noite de hoje, abertura do evento, há coquetel de lançamento do DVD de "Copacabana...", que levou um ano e meio para ser restaurado, segundo Helena Ignez. A atriz e diretora também fez parte da curadoria da retrospectiva.

Além de "O Bandido" e "Copacabana", a mostra exibe a ficção "Abismu" (1977), produção mais escrachada, com Norma Bengell e José Mojica Marins nos papéis principais.

Completam a programação a ficção "Nem Tudo É Verdade" (1986) e o documentário "Tudo é Brasil" (1998), ambos girando em torno de uma das obsessões de Sganzerla: a passagem do cineasta Orson Welles pelo Brasil, tema que também é abordado na ficção "O Signo do Caos" (2003), último filme dirigido por ele.

"O cinema para ele não terminava nunca", diz Pizzini. Certa ocasião, lembra, quando o tumor cerebral de Sganzerla já estava em estágio avançado, viu o diretor ter uma convulsão e ser buscado por uma ambulância. "Na maca, ele virou para mim e perguntou: 'Cadê a câmera?'"

MOSTRA ROGÉRIO SGANZERLA
QUANDO de 8/1 a 11/1
ONDE MIS (Museu da Imagem e do Som), av. Europa, 158 tel. (11) 2117 4777
QUANTO R$ 6 (inteira)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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