Folha de S. Paulo


Novo Houellebecq estimula guerra ideológica na França

Previsto para chegar às livrarias francesas nesta quarta (7), "Soumission" (submissão), novo romance de Michel Houellebecq, 56, vem causando acirrado debate entre representantes da esquerda e da direita na França.

A obra trata da chegada de um partido muçulmano ao poder no país, tema que levou intelectuais de esquerda a acusarem o autor de apoiar a tese da direita sobre o risco da imigração muçulmana para a identidade francesa.

O diretor do jornal progressista "Libération", Laurent Joffrin, criticou a obra por ser "um marco na história das ideias, com o surgimento –ou o retorno– de teses da extrema direita na literatura".

Miguel Medina - 5.nov.2014/France Presse
Livreiro de Paris prepara vitrine como novo romance de Michel Houellebecq
Livreiro de Paris prepara vitrine como novo romance de Michel Houellebecq

Já o filósofo conservador Alain Finkielkraut disse que Houellebecq "não se deixa intimidar". Para ele, o autor descreve "um futuro que não é certo, mas é possível".

A trama se passa em 2022, depois de um hipotético segundo mandato do presidente François Hollande, socialista. Num país fragmentado, a fictícia Fraternidade Muçulmana vence as eleições com o apoio de partidos tradicionais de direita e de esquerda, que visavam impedir a chegada ao poder da Frente Nacional de Marine Le Pen, de extrema direita.

O novo chefe de Estado é apresentado como alguém que "defende valores": patriarcado, poligamia, mulheres usando véu e voltando a cuidar só do lar, o fim da liberdade de consciência e a conversão ao islã.

"É uma ficção política, uma ficção plausível. Mas acelerei um pouco os acontecimentos: 2022 está perto demais", disse Houellebecq, vencedor do Prêmio Goncourt, e que já foi acusado de misoginia e racismo.

Para ele, como os partidos atuais não atendem aos anseios do eleitor francês muçulmano, a "única solução seria efetivamente a criação de um partido muçulmano". Críticos da obra lembraram que hoje há menos de quatro milhões de fiéis muçulmanos na França, representando 10% da população do país.

Questionado sobre o efeito político do livro, o autor disse que a obra "é neutra" e se limita a "captar uma situação". Por outro lado, admitiu que joga com "os medos".

"Uso o recurso de assustar", disse o escritor, acrescentando que não se sabe se há mais medo da extrema direita ou dos muçulmanos.

O presidente Hollande disse que lerá o livro. "Os autores se expressam como quiserem, não é meu papel falar bem ou mal sobre os textos".


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