Folha de S. Paulo


Sob disputa, maior coleção de brasiliana vira museu

A maior coleção de brasiliana (livros, estudos, pinturas e trabalhos sobre o Brasil) já reunida por colecionadores privados no país, doada pela família Geyer em 1999, se tornará um museu com inauguração prevista para 2016.

As obras ficarão na casa da família (fundadora do grupo petroquímico Unipar) que foi a sede de uma fazenda de café no século 18 com 12 mil m², no Cosme Velho, zona sul do Rio. O local será uma extensão do Museu Imperial.

A coleção de 4.255 peças inclui óleos e gravuras de artistas como Rugendas, Debret e Taunay, além de uma biblioteca de livros raros, móveis, louças, objetos de decoração e prataria. Há, por exemplo, uma lanterna de prata da carruagem que levou d. Pedro 2º à cerimônia de coroação.

Ricardo Borges/Folhapress
Acervo exposto no escritório de Paulo Geyer
Acervo exposto no escritório de Paulo Geyer

Muitas das peças foram feitas por artistas, cientistas, exploradores e viajantes estrangeiros que estiveram no país entre os séculos 16 e 19.

IMBRÓGLIO

O conjunto foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no dia 4 de dezembro, em meio a um imbróglio judicial e a uma investigação policial.

O dono da casa e fundador da coleção, Paulo Geyer, e sua mulher, Maria Cecília, doaram coleção e casa ao Museu Imperial em 1999. Os bens passariam às mãos da União quando os dois morressem.

Após a morte de Paulo, em 2004, Maria Cecília tentou reaver parte da coleção, alegando que algumas peças tinham valor sentimental. Perdeu na Justiça em 2013, mas seus herdeiros entraram com recurso. O advogado deles não foi localizado pela Folha.

O diretor do museu, Maurício Vicente Ferreira Júnior, diz que a coleção se tornou patrimônio da União a partir de 2003, quando foi inventariada. "Automaticamente, essas obras viram bens dos brasileiros. Não há como questionar a propriedade desses bens".

Segundo ele, o processo judicial não afetará o museu.

Em paralelo a esse processo, a direção do Museu Imperial constatou, em agosto de 2014, o sumiço de 159 obras da coleção. A Polícia Federal está investigando o caso.

MUSEU-CASA

A sede do futuro museu é uma atração à parte. "A ideia é mostrar como o casal exibia sua coleção. Queremos chamar a atenção do visitante para o aspecto do colecionismo", explica Maurício.

Parte importante da coleção é exibida de maneira inusitada: presa ao teto do escritório de Paulo. Essa posição, no entanto, é desfavorável à conservação das obras porque a camada pictórica pode cair. A solução será exibir ao público reproduções dessas obras.

Por questões de segurança, o museu receberá visitas agendadas e limitadas. Estima-se que até 200 pessoas passem lá por dia –um quinto do Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), que recebe mil.


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