Filha de Luís Carlos Prestes, a historiadora Anita Leocádia Prestes fez duros ataques ao recém-lançado perfil biográfico do pai escrito pelo historiador Daniel Aarão Reis.
Para ela, o autor de "Luís Carlos Prestes –Um Revolucionário entre Dois Mundos" tenta desqualificar seu pai e sua mãe, Olga Benário, numa obra "anticomunista" recheada de "fofocas, mexericos, intrigas e mentiras".
Em texto que passou a circular na internet há duas semanas, Anita diz que o livro de Reis está "repleto de erros factuais e de informações falsas".
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O líder Luís Carlos Prestes [de barba] com membros da Coluna Prestes. |
Publicado em novembro pela Companhia das Letras, a obra é fruto de mais de cinco anos de pesquisa.
Ele reconstitui a participação de Prestes –sem esquecer seus erros e acertos– em momentos cruciais da história brasileira do século 20: a coluna nos anos 1920 eternizada com seu nome, a Intentona Comunista de 1935, as posições durante a ditadura de 1964 e o ostracismo que viveu ao voltar do exílio, em 1979.
Segundo o autor, o livro, baseado em documentação inédita, é uma tentativa de fazer um retrato equilibrado. Ele também explora aspectos pouco conhecidos de sua vida, como a relação com a mãe e os conflitos entre Anita e as tias com Maria Ribeiro, última mulher de Prestes.
A exposição familiar parece ter incomodado a filha. É notária sua birra com quem se aventura na história de Prestes em livros ou documentários. Anita afirma que não tenta controlar o que se escreve a respeito do pai. "Sou obrigada a criticar quem escreve sem conhecimento de causa, reproduzindo calúnias e inverdades", disse à Folha.
Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Anita diz trabalhar há mais de 30 anos numa biografia política sobre o pai, que deve lançar no primeiro semestre deste ano pela editora Boitempo. Por essa razão, conta, não deu entrevistas a Aarão Reis.
Ela afirma que a "metodologia" do livro recém-lançado é marcada pela "incompetência e irresponsabilidade".
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Entre os erros apontados está a informação de que Olga, ao vir para o Brasil nos anos 1930, deixou um filho em Moscou. O autor credita a afirmação ao Arquivo da Internacional Comunista, na Rússia.
Anita diz que a informação é falsa: "Conheço essa documentação. Se alguém, em algum lugar, afirmou tal coisa a respeito de Olga, é mentira".
À Folha o autor diz que vai conferir os supostos erros numa eventual reedição. Segundo ele, falhas são normais num livro de mais de 500 páginas que "abrange quase um século, dedicado à vida de um homem que viveu boa parte do tempo na clandestinidade".
Ele lembra que o jornalista Augusto Nunes, em resenha na revista "Veja", o acusou de "complacência", enquanto a filha de Prestes sustenta que seu livro é "anticomunista".