Folha de S. Paulo


Morre aos 83, em Buenos Aires, a mulher que inspirou 'Hilda Furacão'

Hilda Maia Valentim, a mulher que inspirou a personagem Hilda Furacão, do romance e da minissérie de mesmo nome na televisão, morreu em Buenos Aires na manhã desta segunda (29).

Hilda morreu por problemas no sistema respiratório. Ela estava internada em um asilo da prefeitura de Buenos Aires para idosos. Segundo a assistente social responsável, a brasileira Marisa Barcellos, Hilda já não estava comendo havia mais de uma semana e estava sendo hidratada com sondas.

Felipe Gutierrez/Folhapress
Hilda Maia Valentim no asilo onde vivia em Buenos Aires
Hilda Maia Valentim no asilo onde vivia em Buenos Aires

"A Hilda morreu de morte natural, não morreu na rua nem sem assistência", afirma Barcellos. Nesta terça (30), ela completaria 84 anos.

Quando Hilda apareceu no asilo para idosos em maio, Barcellos decidiu investigar o passado e imaginou que ela talvez fosse a mesma mulher que havia inspirado o escritor Roberto Drummond, autor do romance "Hilda Furacão".

A assistente social entrou em contato com o jornalista Ivan Drummond, que é parente de Roberto e confirmou sua identidade. Ele publicou depois uma reportagem no jornal "O Estado de Minas".

No livro que inspirou a série, Hilda é uma filha da elite de Belo Horizonte que vira prostituta. Hilda Maia Valentim nunca pertenceu à elite mineira. Ela se casou com um jogador de futebol, Paulo Valentim, que foi contratado pelo Boca Juniors nos anos 1960. Ele virou um ídolo local, e a família acabou se estabeleceu em Buenos Aires.

O jogador de futebol morreu há 30 anos, em 1984.

Não vai haver velório para Hilda. Ela não recebia visitas de familiares. O corpo dela deve ser levado ao cemitério de Chacarita, em Buenos Aires.

Hilda foi levada à Argentina pelo marido, que ainda jogou em um clube do México. Já aposentado, foi contratado como técnico de categorias de base do Boca Juniors.

Aos 83, Hilda se confundia com dados. À Folha, em julho, disse que o marido morrera há cinco meses, mas ele está morto desde 1984. Segundo Barcellos, um filho de Hilda morreu há cerca de um ano.

Ela não gostava de ser chamada de Furacão, mas confirma que era o seu apelido, ganho por ser muito briguenta.

Quando questionada sobre a série da Globo de 1998, primeiro falou que não sabia da existência. Depois, disse que pediram sua autorização para gravar. Também disse que "nunca teve a oportunidade" de conhecer a zona de Belo Horizonte e que trabalhava como doméstica antes de se casar.

Ela diz não guardar muitas memórias da capital mineira, mas, sim, da vida ao lado de Valentim. "Conheci cinco países com ele, e de avião."


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