Folha de S. Paulo


Romance parte de tese considerada herética pela Igreja

Não se trata de uma tese puramente ficcional. Segundo Frei Betto, autor de "Um Homem Chamado Jesus" (editora Rocco), Amós Oz recorreu a um polêmico texto histórico para embasar filosoficamente o seu novo livro.

Em "Judas", Oz defende a premissa de que o traidor foi o mais fiel devoto de Jesus.

"Ele se baseou no Evangelho de Judas, atribuído a autores gnósticos do século 2. Este texto ficou desaparecido até 1970. Diz que Judas cumpriu a vontade de Jesus, libertando do corpo o espírito divino", comenta Frei Betto.

Bel Pedrosa/Divulgação
Amós Oz, escritor israelense
Amós Oz, escritor israelense

"Essa concepção é considerada herética pela Igreja. Para o evangelho cristão, Judas vendeu Jesus por 30 pratas, que era o preço de um escravo."

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Para o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, a obra de Oz é redentora para a comunidade judaica e, paradoxalmente, para o próprio autor.

"A imagem bíblica do Judas custou muito ao povo judeu, que sofreu torturas e assassinatos justificados pela ideia da traição. A mudança só ocorreu no século 20, quando o Vaticano isentou o povo judeu da responsabilidade coletiva da morte de Jesus", diz. "O interessante é que o próprio Oz hoje é visto como o Judas de Israel, por defender a coexistência com os palestinos. O livro chacoalha a noção de traição."

Para Frei Betto, "Judas" é um livro para ser lido por judeus e cristãos. "Todos os personagens são marcados pela traição. O protagonista levanta a questão de que Jesus não veio fundar uma religião, mas instalar um modelo civilizatório baseado na justiça e no amor", diz ele.

"Tem uma frase nuclear do romance: Os que estão dispostos a mudar, os que têm a força para mudar, sempre serão visto como traidores por aqueles que têm um medo mortal da mudança'".


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