Folha de S. Paulo


'Gosto dos personagens sem moral', diz Viggo Mortensen

O ator Viggo Mortensen, 56, galgou fama nos cinemas com o moralmente inquestionável Aragorn, de "O Senhor dos Anéis". Mas carrega um portfólio bem maior de personagens ambíguos, caso do mafioso russo de "Senhores do Crime" (2007), que lhe valeu uma indicação ao Oscar.

No suspense noir "As Duas Faces de Janeiro", que estreia nesta quinta-feira (18), o americano retorna a um universo de tintas pouco definidas para viver o ambivalente vigarista Chester MacFarland.

"As pessoas vão continuar torcendo para que ele se dê bem no fim, não importando o quão trapaceiro seja", diz o ator à Folha, por telefone. "Gosto desse tipo de personagem sem moral, que mente para todos e para si próprio."

Divulgação
Kirsten Dunst e Viggo Mortensen em cena do filme 'As Duas Faces de Janeiro'
Kirsten Dunst e Viggo Mortensen em cena do filme 'As Duas Faces de Janeiro'

Inspirado em obra da escritora Patricia Highsmith (1921-1995), o filme acompanha um casal (Mortensen e Kirsten Dunst) que passa uma ensolarada temporada na Grécia, onde acaba topando com Rydal (Oscar Isaac), guia turístico afeito a pequenos golpes.

Quando o marido comete um assassinato testemunhado por Rydal, o jovem trambiqueiro se vê obrigado a ajudar o casal a livrar a cara, mas dá início a um jogo de chantagens e reviravoltas com o escaldado Chester.

Fã de filmes de suspense –Mortensen já chegou a atuar em duas refilmagens de clássicos de Hitchcock, "Um Crime Perfeito" (1998) e "Psicose" (1999)–, o ator diz que foi seduzido pelo roteiro de "As Duas Faces de Janeiro".

"É até melhor do que o livro, o que é raro. Fez os personagens ficarem mais complexos, com mais camadas."

O iraniano Hossein Amini assina a adaptação do texto e a direção do filme, o primeiro dirigido por esse experiente roteirista (de longas como "Asas do Amor" e "Drive").

O ator elogia o resultado e o compara a outra adaptação de uma obra de Highsmith, a produção "O Talentoso Ripley" (1999), de Anthony Minghella. "É lindo e com boas atuações, mas se esforçava muito na reconstituição da época. O nosso se esforça para não se exibir tanto."

EFEITO DOS ANÉIS

Ator há mais de 30 anos, foi aos 43 que o rosto de Mortensen ganhou fama mundial, ao interpretar o guerreiro Aragorn em "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson.

"Ainda sinto um efeito residual desses filmes, mesmo depois de 13 anos", afirma.

Ele diz que a trilogia abriu as portas para trabalhos com diretores cultuados como David Cronenberg e até serviu de vitrine para financiar projetos bem menores, como o longa independente argentino "Todos Tenemos un Plan" (2012), de Ana Piterbarg.

Mortensen ainda não viu nos cinemas o capítulo final de "O Hobbit", trilogia que antecede os eventos da saga fantástica "O Senhor dos Anéis"e na qual ele não atua.

"Os dois anteriores eu vi na primeira fileira, com aqueles óculos engraçados de 3D."

O que achou? "Tiveram de usar muitas licenças criativas na adaptação, o que é até compreensível, e é carregado de efeitos especiais", afirma. "Mas ainda assim dá para notar todo aquele universo do qual adorei fazer parte."


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