Folha de S. Paulo


Crítica: 'Auto' dos Parlapatões é brincadeira profana

São dez anos de "O Auto dos Palhaços Baixos", contou o autor, diretor e animador Hugo Possolo durante a primeira das duas apresentações da brincadeira, nesta temporada de festas. A segunda é nesta quarta (17).

A paródia de auto de Natal —vagamente sobre o nascimento de Cristo— levou dois ex-parlapatões de volta momentaneamente ao grupo, Henrique Stroeter e Claudinei Brandão, o que resume a ideia: está mais para festa improvisada que espetáculo. Aliás, uma festa profana.

Remete ao que faziam antes os Doutores da Alegria, de Wellington Nogueira, também em fim de ano, com "Midnight Clowns". Juntavam palhaços com os mesmos narizes postiços e apresentavam uma revista de esquetes escrachados, costurados de última hora, com banda ao vivo reunida às pressas.

No caso dos Parlapatões, o escracho é um pouco maior.

Fernando Moraes/Folhapress
Ator Hugo Possolo que remontou a peça 'Auto dos Palhaços Baixos
Ator Hugo Possolo que remontou a peça 'Auto dos Palhaços Baixos'

Já é, portanto, uma tradição paulistana de mais de duas décadas, que remete ao tradicional "panto" londrino, também afetadamente amadorístico e natalino. No princípio do "auto", uma década atrás, divulgou-se que a inspiração vinha de evento semelhante, no Dia do Palhaço, 10 de dezembro, na Escócia.

Aqui, "O Auto dos Palhaços Baixos" depende muito do público, em grande parte dali mesmo, da praça Roosevelt (centro de São Paulo), e termina chamado ao palco. E ninguém espera que tudo saia direito, a dramaturgia faça sentido ou que pelo menos os atores lembrem seus textos –algo que acontece raramente.

Muito do que se ouve é piada interna ou adolescente, para o mal e para o bem. A tirada mais nonsense, a melhor, festejada por Possolo por continuar provocando risada após uma década, é sobre a atriz americana Uma Thurman, que não pode ser "uma" e ao mesmo tempo "turma".

Para o fim de ano, quando quase todos os espetáculos saem de cartaz, não faz mal mesmo um pouco de "camp", de burlesco, de música fora do tom e das piadas sobre o especial de Roberto Carlos.

Mas percebe-se também como, ao longo dos anos, o elenco feminino dos Parlapatões foi sumindo, até não restar ninguém, e o humor se tornou mais grosseiro, misógino, mais para recreio de escola do que para teatro. No caso, ainda se alonga demais, por duas horas, nem sempre com improvisação ou roteiro inspirado.

O AUTO DOS PALHAÇOS BAIXOS
QUANDO qua. (17), às 21h
ONDE Espaço Parlapatões, pça. Franklin Roosevelt, 158, tel. (11) 3258-4449
QUANTO R$ 40
AVALIAÇÃO regular


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