Folha de S. Paulo


Garota contestadora criada por Quino, Mafalda chega a SP em exposição

Em uma casa preta e branca de proporções quase reais, uma TV retrô exibe "Pica-Pau" sem som, enquanto uma vitrola faz dos Beatles a trilha sonora do ambiente.

O cenário reproduz os quadrinhos de "Mafalda", criados pelo argentino Joaquín Lavado, o Quino, em setembro de 1964, e pode ser visto a partir desta quarta-feira (17) na exposição "O Mundo Segundo Mafalda", na Praça das Artes, em São Paulo.

A mostra, que já passou por Argentina, Costa Rica, México e Chile, celebra 50 anos da personagem, uma menina bochechuda conhecida por suas indagações desconcertantes e visão crítica do mundo.

Criada em uma típica família de classe média na Argentina dos anos 1960, Mafalda tornou-se celebrada em todo mundo pela ironia em relação aos temas de sua época —marcada por ditaduras na América Latina, pela chegada da televisão e pela popularidade dos rapazes de Liverpool.

"Ela continua bastante popular, pois esse humor não ficou datado, permite uma dupla leitura, pode ser lido no seu aspecto mais adulto ou como uma brincadeira de criança", observa Waldomiro Vergueiro, professor de histórias em quadrinhos na USP.

"Ela é uma jovem senhora que marcou uma geração em uma época difícil na América Latina. Superamos este momento, mas Mafalda sobrevive", aponta o secretário municipal da Cultura, Juca Ferreira —a mostra é uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo, a Fundação Theatro Municipal e a produtora Mundo Giras.

Segundo a curadora, a argentina Sabina Villagra, a ideia é apresentar a personagem às crianças. Além da reprodução do apartamento, há espaços interativos nos quais é possível personalizar os desenhos com carimbos, lápis de cor e até almofadas. "Não é uma retrospectiva, mas uma reinterpretação", explica.

Para o jornalista Álvaro de Moya, 84, autor de "História da História em Quadrinhos" (1993), "as pessoas costumam subestimar as crianças achando que elas não têm visão das coisas, mas Mafalda é a prova contrária disso".

Moya conheceu Quino décadas atrás num festival de quadrinhos na Itália. Esteve com o quadrinista em algumas ocasiões no Brasil. "Ele sempre exigia a presença de Ziraldo quando ia se apresentar, porque era tímido, e Ziraldo era um showman'", lembra.

Convidado, Quino, 82, não virá ao Brasil. Foi representado na abertura da mostra por sua sobrinha Julieta Colombo.

O MUNDO SEGUNDO MAFALDA
QUANDO diariamente, das 9h às 20h (fechado em 24, 25, 31/12 e de 1º a 6/1); até 28/2
ONDE Praça das Artes, av. São João, 281. tel. (11) 4571-0401
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre


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