Folha de S. Paulo


Crítica: Coletânea de textos de Pagu não se sustenta

Com o exemplar de 472 páginas em mãos, pensamos estar diante da biografia quase definitiva de uma figura que transitou do modernismo ao comunismo, sem se deixar definir ou capturar em formulações simplistas.

Ao percorrer o índice, notamos que não ficaremos a par nem dos recônditos segredos nem das recentes descobertas sobre a obra de Patrícia Galvão, a Pagu (1910-1962), escritora iconoclasta e militante política que deixou sua marca no cenário cultural brasileiro.

Trata-se, na realidade, de uma seleção de escritos seus, acompanhados de notas introdutórias. Assim foi registrado na ficha catalográfica, e assim deveria constar da capa, impecável, de Raul Loureiro. Revista e ampliada, esta reedição leva o mesmo título de 32 anos atrás, "Pagu - Vida–Obra", que ainda hoje confunde o leitor.

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Patrícia Galvão, a Pagu, em imagem recuperada pelo livro
Patrícia Galvão, a Pagu, em imagem recuperada pelo livro

Biografias não precisam ser tradicionais, nem se render à excessiva glamorização. Devem, sim, trazer novas informações a partir de extensiva pesquisa, que jogue luz sobre aspectos pouco explorados.

Augusto de Campos, organizador do livro, alega que está além do seu biótipo de poeta escrever uma. Então, que não chamasse o livro "Vida–Obra". Poderia evitar o uso da primeira pessoa do singular, diminuindo os trechos em que gira os holofotes para si.

Em cinco flashes que incluem poemas, textos e uma entrevista de Campos a Mario Sergio Conti, em 1982, além de um artigo de Antonio Risério, o livro traz dois poemas de Raul Bopp (1898-1984), sete testemunhos de contemporâneos de Pagu e cinco resenhas.

No miolo do volume, a musa rebelde adquire voz própria em artigos, críticas literárias, crônicas e outros escritos de sua autoria.

O ponto alto fica por conta das fotos de época e dos fac-símiles do seu caderno ilustrado de 1929, ao lado daquele feito com o marido, Oswald de Andrade (1890-1954).

Pagu: Vida-Obra
Augusto de Campos (Org.)
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Este último, de 1929 a 1931, traz ilustrações da artista com o irreverente aviso: "Você não pode comigo, vou arrumar outro", seguido do recado do marido: "Eu mesmo arrumo".

Augusto de Campos afirma que optou por um percurso de achados e descobertas, trilhado sob a égide do fragmento e da intertextualidade para dialogar com Pagu.

Propôs "remitificá-la outra vez, mas sem mistificações", seja lá o que isso quer dizer. Entretanto, na ausência de um fio condutor costurando os interessantíssimos retalhos, o livro não se sustenta.

Ao fechá-lo, não sabemos direito a que veio. Não há dúvida de que essa "luminosa agente subversiva" ainda tem muito a nos contar, se apenas não a tomarmos de maneira desconexa e personalista.

PAGU - VIDA –OBRA
ORG. Augusto de Campos
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 59,50 (472 págs.)
AVALIAÇÃO regular


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