Folha de S. Paulo


Após denúncias de estupro, Bill Cosby cai de 3º para 2.615º 'mais confiável'

Sonhando em ser atriz, Barbara Bowman virou protegida do comediante Bill Cosby, em 1985, quando tinha 17. Ele, por sua vez, reinava na TV americana como o simpático e correto dr. Huxtable, protagonista do fenômeno "The Cosby Show", líder de audiência por cinco anos consecutivos. Até que, segundo ela, o astro a drogou e estuprou em sua casa em Nova York.

Barbara, inicialmente, não foi à polícia, mas ganhou confiança e decidiu apoiar o caso de Andrea Constant, outra mulher que acusava Bill Cosby de abuso sexual, em 2005.

Ela contou sua história à Justiça, mas o caso foi arquivado quando Andrea chegou a um acordo com advogados por cifras nunca divulgadas.

Barbara Bowman, agora casada e mãe de duas crianças, nunca mais escondeu seu testemunho. Foi entrevistada pela "Philadelphia Magazine" e "People", em 2006, e relatou sua experiência à "Newsweek" em fevereiro passado. Ainda assim, nenhum interesse público.

A internet entrou em campo apenas em outubro, quando um vídeo do comediante Hannibal Buress chamando Bill Cosby de "estuprador" tornou-se viral.

A equipe de Cosby tentou dar o troco, pedindo que os fãs criassem "memes" (piadas que se espalham on-line) com seu ídolo. O feitiço voltou contra o feiticeiro. Os internautas inundaram as redes com anedotas envolvendo a fama de estuprador.

Em menos de um mês, 20 mulheres já tinham vindo a público acusando Cosby, que fez 77 anos em julho, de abuso sexual ou estupro, atos cometidos entre 1969 e 2004. Uma nova denúncia veio a público nesta quarta (3), registrada na corte de Los Angeles por uma mulher que diz ter sido molestada em 1974, quando tinha 15 anos.

Ser condenado pelas redes sociais on-line pode não levar à prisão, mas sim ao fim de sua figura pública e de seu império forjado no fogo do bom mocismo –ele tem até um livro, lançado em 1986, chamado "Fatherhood" (paternidade), no qual dá conselhos para chefes de família.

Além dos relatos das mulheres, um ex-funcionário da NBC foi a público afirmando ter levado diversas garotas ao camarim do astro.

O caso tomou tal proporção que o biógrafo de Cosby, Mark Whitaker, admitiu o grave erro que cometeu ao omitir as alegações de abusos sexuais no livro "Cosby: His Life and Times", lançado em setembro.

REPUTAÇÃO

A imagem está severamente manchada. Em 2013, a Marketing Arm, empresa que pesquisa o relacionamento do público com famosos, tinha Bill Cosby em terceiro lugar das "celebridades mais confiáveis". Agora, segundo a companhia, o comediante caiu para o número 2.615.

Em questão de semanas, Cosby teve a vida colocada de cabeça para baixo.

O Netflix adiou um especial que exibiria neste mês, a NBC engavetou um projeto no qual o comediante repetiria o papel de pai de família, entrevistas nos "talk shows" de David Letterman e Queen Latifah foram canceladas, apresentações no Dia de Ação de Graças, em Las Vegas, foram esquecidas e universidades ligadas a seu nome anunciaram que Cosby passou a ser "persona non grata".

A colunista do "Washington Post" Kathleen Parker foi mais objetiva sobre o "julgamento on-line". "Seja qual for a verdade sobre Cosby, o devido processo foi vítima do que Clarence Thomas [juiz da Suprema Corte americana] chamou uma vez de linchamento high-tech", escreveu na última sexta (28).


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