Folha de S. Paulo


HQ 'Sorge, O Espião' conta história fascinante de espião alemão

O alemão Richard Sorge (1895-1944) não merece estar na lista dos melhores espiões da história; afinal, foi preso e executado.

Os melhores espiões se aposentam na surdina. Mas Sorge com certeza é um forte candidato ao mais importante espião de todos os tempos, um desses raros indivíduos que deixam sua marca na história.

Sua trajetória é contada na HQ "Sorge, O Espião", da alemã Isabel Kreitz. A versão em português do livro chega às livrarias em edição da Veneta.

Como muitos jovens alemães, se alistou entusiasticamente no exército por ocasião da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ferido, começou a questionar a guerra. Durante o longo processo de recuperação, conheceu a literatura marxista e se tornou um devotado comunista.

Sorge foi para o Extremo Oriente em 1930, primeiro para Xangai, depois para Tóquio. Jornalista competente, tinha boas relações com a embaixada alemã no Japão. Com isso teve acesso a valiosas fontes de informação.

Divulgação
Página de graphic novel 'Sorge, o Espião', de autoria da alemã Isabel Kreitz, que sai agora no Brasil pela editora Veneta
Página de graphic novel 'Sorge, o Espião', de Isabel Kreitz, que sai agora no Brasil pela editora Veneta

Seu primeiro grande golpe não foi levado a sério. Ele descobriu que os alemães pretendiam invadir a então União Soviética em junho de 1941. Mas o ditador soviético Josef Stálin não acreditou –nem, aliás, em nenhuma das outras indicações vindas de outras fontes.

Sorge ficou irritado, como esta sua história em quadrinhos deixa claro. Tinha um temperamento explosivo e bebia muito, talvez algo típico de jornalistas, mas nada recomendável a um espião.

Curiosamente, ele não escondia suas simpatias esquerdistas. A própria embaixada –incluindo a polícia política – falhou em detectar o passado comunista de Sorge, mostrando que a eficiência germânica nem sempre funciona.

Além de filiado, ele trabalhara como redator no jornal do Partido Comunista Alemão.

A invasão alemã da URSS foi um choque brutal para Stálin, que confiava no "parceiro" de pacto de não-agressão, Adolf Hitler.

Depois do choque inicial, ele reagiu. Mas milhões de soldados soviéticos foram mortos e milhares de tanques e aviões foram destruídos.

Stálin tinha reservas no Extremo Oriente, de prontidão caso o Japão resolvesse entrar na guerra ao lado da Alemanha. Para impedir que Moscou fosse tomada, era fundamental poder contar com esses soldados, alguns com experiência nos invernos rigorosos da Sibéria.

A grande questão era saber a intenção do Japão. Sorge a descobriu e passou a resposta a Moscou. Dessa vez, Stálin não hesitou. Transferiu as tropas siberianas e estabilizou a frente de combate.

TOSCO

O livro investe nos relacionamentos pessoais de Sorge e mostra como eram seus métodos de espionagem.

Como um documentário, algumas páginas mostram depoimentos pessoais depois da guerra. O efeito é positivo tanto para transmitir a história quanto para precisar a personalidade do espião.

Sorge, O Espião
Isabel Kreitz
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Em compensação, o traço dos desenhos é extremamente tosco. Os corpos e rostos são por vezes grotescos, algo estranho para uma autora premiada como Kreitz.

O rosto da menina no primeiro quadro da página 187 é de assustar; parece deformada. Olhando melhor, se vê que ela está mordendo um pedaço de pão ou uma torrada...

Também irrita ver longos trechos em japonês ou inglês. Parece realista, mas é óbvio que o diálogo é inventado.

Por outro lado, o visual dos ambientes internos e externos parece impecável. Mas o melhor é mesmo a história de Sorge, bem resumida por Frank Giese no fim do livro.

SORGE, O ESPIÃO
AUTOR Isabel Kreitz
TRADUÇÃO Fabiane Briere
EDITORA Veneta
QUANTO R$ 49,90 (268 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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