Folha de S. Paulo


Casa de Jorge Amado e Zélia Gattai é aberta como museu em Salvador

No jardim sombreado onde sopra a brisa do mar do Rio Vermelho, repousa a escultura de um exu –orixá da comunicação entre os mundos espiritual e material.

O guardião do candomblé dá boas-vindas à casa que simboliza o amor, a vida e a obra de Jorge Amado (1912-2001) e Zélia Gattai (1916-2008), dois dos principais nomes da literatura brasileira.

Depois de 11 anos de portas fechadas, a casa número 33 da rua Alagoinhas –um dos endereços mais famosos da Bahia– virou museu.

O espaço não se limita à história de dois escritores –casados por 56 anos–, mas de personagens, costumes, e signos que forjaram a identidade da Bahia que Jorge Amado apresentou ao mundo.

Com curadoria do arquiteto Gringo Cardia, a casa foi dividida em 17 instalações que se revelam como um labirinto. A cada cômodo, um elo das vidas de Jorge e Zélia para ver, ouvir, tocar e sentir.

Objetos e móveis se misturam a projeções de imagens nas paredes. São 11 horas de vídeos com depoimentos de amigos e trechos de livros.

Para os ouvidos, canções de Dorival Caymmi na voz de Maria Bethânia coabitam com gravações da gostosa risada da quituteira Dadá, que ensina receitas baianas, e até reproduções da voz de Jorge Amado ecoam pela residência.

"Depois de pronta, a casa está muito cheia da lembrança e da presença de meus pais. Entrar aqui e ouvir a voz dele falando é uma coisa que abala as nossas estruturas", diz João Jorge Amado, filho do casal.

A casa por si só já seria uma ode à arte: os gradis são de Mário Cravo, as portas foram gravadas por Calazans Neto e as paredes têm figuras de Carybé. Na varanda, em lugar de destaque, há um azulejo pintado por Pablo Picasso.

PONTO TURÍSTICO

Com o museu, Salvador segue o exemplo de cidades como Dublin, na Irlanda, e Santiago, no Chile, que transformaram as casas de filhos ilustres como os escritores James Joyce e Pablo Neruda em pontos turísticos que atraem milhares de pessoas.

Para o secretário de Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, o museu paga uma dívida da Bahia para com Jorge e Zélia.

Transformar a casa num memorial foi um sonho antigo que Zélia não conseguiu concretizar em vida. Não bastaram os apelos da família ao exu guardião do local: a falta de apoio de governos e empresários postergou a obra.

"Foi uma batalha difícil, mas que passou. Agora, com a casa pronta, não é tempo de a gente lembrar das coisas ruins", diz aliviada Paloma Amado, filha do casal.

Em 2013, o museu foi finalmente encampado pela Prefeitura de Salvador, que investiu R$ 6 milhões na reforma das instalações.

A expectativa dos organizadores da casa é que esse valor se tornará uma bagatela frente ao seu potencial de retorno econômico.

CASA DO RIO VERMELHO
ONDE r. Alagoinhas, 33, Salvador
QUANDO de sexta a domingo, das 10h às 17h (a partir de 26/12, de terça a domingo)
QUANTO R$ 20


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