Folha de S. Paulo


Deborah Secco diz que filme 'Boa Sorte' mudou sua visão da vida

Depois de levar mais de 2 milhões ao cinema com "Bruna Surfistinha", a atriz Deborah Secco, que acaba de completar 35 anos, está de volta com "Boa Sorte", longa de estreia de Carolina Jabor escrito por Jorge e Pedro Furtado, vencedor do prêmio de júri popular no último Festival de Paulínia.

O filme conta uma história de amor passada em uma clínica de internação, entre Judite, 30 anos, portadora de hepatite C e do HIV já em estágio avançado e usuária de todo o tipo de droga, e João, 17, interpretado por João Pedro Zappa, depressivo que descobre na combinação do ansiolítico Frontal com refrigerante um alívio para a dor –o nome do conto que inspirou o roteiro é "Frontal com Fanta".

Disfuncionais, as estruturas familiares levam os personagens para mais fundo no poço, proporcionando-lhes uma sensação de invisibilidade numa sociedade que não percebe estar também doente. Mesmo o corpo clínico aparece despreparado para lidar com esta complexidade.

Daniel Marenco/Fohapress
Deborah Secco posa para foto em sua casa, no Rio
Deborah Secco posa para foto em sua casa, no Rio

"Boa Sorte" tem participações especiais de Fernanda Montenegro e Cassia Kiss.

Em primeiro plano aparecem Judite e João, que descobrem na paixão uma espécie de tábua de salvação. As bonitas cenas de amor ecoam esta emoção. Outro ponto alto do filme são as ilustrações de Rita Wainer, que se transformam em animações.

CORPO E MENTE

Em entrevista à Folha, Deborah Secco conta que perdeu 11 kg (foi de 55 kg para 44 kg) para fazer o papel –ela tem 1,64 m. "A preparação me mostrou que a gente come muito mais do que precisa. Mas a mente é mais forte. Posso fazer com meu corpo o que quiser." A atriz diz que não se considera especialmente bonita. "Sou mais bem cuidada que bonita. Não sou uma mulher com os traços perfeitos e delicados de uma Ana Paula Arósio, por exemplo."

Segundo Deborah, foram três semanas à base de água e frutas não fibrosas, além de sessões frequentes de sauna e uso de roupas quentes, para estimular o suor. Além disso, ela tomou diuréticos. Tudo sob acompanhamento médico.

"Fazer este filme mudou minha percepção da vida de forma avassaladora", conta. "O longa trata de uma coisa linda, que é a Judite perdendo a vida e lutando para viver loucamente, e o menino cheio de vida, e se dopando para não viver. Porque sofrer é viver. Não existiria felicidade se não houvesse a dor."

Ela diz nunca ter usado drogas, lícitas nem ilícitas. E acha que cada um deve estabelecer seu limite de dependência quanto ao uso de medicamentos psiquiátricos. "Quando estou ansiosa, minha questão é com comida e compulsão pelas compras."

Para se preparar, ela diz ter se inspirado no guru indiano Osho, no Livro Tibetano dos Mortos, em escritos sobre ioga e budismo e numa entrevista que fez com o médico infectologista David Uip.

Os medicamentos de hoje são mais eficazes, prolongando o tempo de vida dos portadores de HIV. De toda forma, a perspectiva da finitude pode ser transformadora. "Ele me disse que cada paciente reage de forma diferente quando depara com a ideia de morte. Mas que em todos os casos que acompanhou houve uma força construída na serenidade de aceitar a situação."


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