Folha de S. Paulo


HQ revisita as origens do golpe de 64 e da ditadura

Com vilões caricatos, lances mirabolantes e conspirações por toda parte, a trama que levou ao golpe militar de 1964 tem elementos que parecem feitos por encomenda para uma história em quadrinhos. Mas o assunto é tão controverso que foi preciso esperar meio século até que alguém se arriscasse a usar o formato para lidar com ele.

Resultado de uma parceria do jornalista Oscar Pilagallo com o cartunista Rafael Campos Rocha, ambos colaboradores da Folha, "O Golpe de 64" chega às livrarias nesta semana pelo selo editorial Três Estrelas, da Folha, para preencher a lacuna, a tempo de se juntar a outros volumes que aproveitaram o cinquentenário do golpe neste ano para revisitar a ditadura militar.

O livro começa sua história com o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e percorre a fase tumultuada vivida pela democracia brasileira nos anos seguintes para apontar as origens do movimento que derrubou o presidente João Goulart uma década mais tarde.

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Imagem reprodução do livro 'O Golpe de 64' de Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha pela editora Tres Estrelas
Imagem reprodução do livro 'O Golpe de 64' de Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha pela editora Tres Estrelas

Responsável pelo roteiro e pelo texto dos quadrinhos, Pilagallo seguiu de perto a literatura existente sobre o tema, resumindo os acontecimentos que antecederam a queda de Jango e as fases mais marcantes do regime autoritário que manteve os generais no poder por 20 anos.

"Procurei ser neutro e evitar julgamentos que não têm mais sentido, passado meio século", afirma Pilagallo, 59, que tinha nove anos de idade quando os militares tomaram o poder e só começou a se interessar por política muito tempo depois. "Ninguém naquela época era só mocinho ou bandido."

EQUILÍBRIO

Autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas, 2012), o jornalista se preocupou com equilíbrio e fidelidade histórica, mas deu a Rocha bastante liberdade para ilustrar sua narrativa com imagens nem sempre tão fiéis aos fatos que representam.

Rocha, 44, assistiu a documentários sobre o período e pesquisou imagens de época para retratar os personagens centrais e os principais episódios. Nos casos em que não encontrou referências ou achou que assim podia expressar melhor o que Pilagallo queria contar, ele recorreu à própria imaginação.

O Golpe de 64
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Por exemplo, para explicar por que a direita se assustava com o radicalismo do deputado Leonel Brizola, cunhado de Jango e um de seus principais aliados à esquerda, Rocha desenhou-o com trajes gaúchos tradicionais e empunhando uma espada à frente de um exército de seguidores.

Criador do personagem Deus, essa gostosa, cujas histórias a Folha publica aos domingos na "Ilustríssima", o cartunista foi generoso com Jango, que ganhou feições mais elegantes do que as usadas pelos chargistas nos jornais dos anos 60, e mordaz com os militares, em geral retratados com traços grotescos.

"Fiz os comunistas bonitos e os milicos bem feios mesmo", diz Rocha, que é filho de uma professora de história aposentada e nasceu quando a ditadura entrava em sua etapa mais violenta. "Toda história é uma versão de fatos e documentos, e sempre entra um pouco de ficção nisso também."

O GOLPE DE 64
AUTORES Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 34,90 (120 págs.)


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