Folha de S. Paulo


Musicais tornam o contrarregra senhor do teatro brasileiro

Em 2001, quando o produtor inglês Cameron Mackintosh decidiu trazer "Les Misérables", não achou no Brasil uma figura central para os grandes musicais: o "stage manager". Apelou ao México, onde eles já tinham aportado, e tirou Leslie Pierce de "O Fantasma da Ópera".

Passados 13 anos, ainda não há tradução definida. Fala-se em diretor de cena, chefe de palco ou, humildemente, como sugerem os dicionários, o velho contrarregra.

O mais provável é que o ofício se firme, como já ocorre, em inglês mesmo. É o que defende Pierce, que até publicou livro em 2013, "Teatro Musical – Guia Prático de Stage Management" (Giostri).

Lenise Pinheiro/Folhapress
A ‘'stage manager'’ Leslie Pierce, de ‘O Homem de La Mancha’, no Teatro do Sesi
A ''stage manager'; Leslie Pierce, de 'O Homem de la Mancha', no Teatro do Sesi

Ela se fixou em São Paulo, onde vem cumprindo a tarefa em musicais de diferentes produtoras, como "A Bela e a Fera", "Pernas pro Ar" e agora "O Homem de La Mancha".

Independentemente do nome, o que importa é o que o ofício traz de inovação: comandar toda a apresentação. É o "stage manager" quem chega antes, dá os três sinais, passa deixas pelo rádio, o intercom. E depois detalha tudo, dia após dia, num livro.

Não é um só, mas uma equipe, que coordena outras equipes –de luz, maquinário, som, até elenco. "Tem sido um caminho longo, complicado, mas pelo menos as pessoas já ouviram falar que existe'", diz Pierce, rindo.

"Foi difícil entenderem. No Les Mis', a equipe técnica olhava para mim: Quem é essa gringa que não fala português e vem mandar em mim? Que vem dar deixa para eu fazer o que eu já sei fazer?'."

O "stage manager" está agora por todos os lados, com poder crescente. Mas ainda é uma ideia fora de lugar.

É o que alerta Domingos Varela, um dos mais experientes contrarregras/diretores de cena do país. Começou com Fernanda Montenegro, correu o mundo com Gerald Thomas e agora está com Jô Soares em "Atreva-se".

Trabalhou também em musical, na última década, e diz que aqui a mudança é parcial. "Antes era caseiro, e a vinda dos musicais obrigou o mercado a se situar, ter noção da responsabilidade que é", diz.

"O ruim da história, que eu testemunho, é que as pessoas são literalmente exploradas. Passam a vida lá dentro e não têm compensação, salário, essas coisas. A queixa é geral. Com os americanos, em Nova York, é diferente."

É por isso que não faz mais musical, acrescenta, e só recomenda aos colegas mais jovens, porque "você realmente vai ter o que aprender lá".

Colaborou LENISE PINHEIRO


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