Folha de S. Paulo


Remanescente dos Wailers faz show pela primeira vez no país

Último remanescente da banda de reggae The Wailers, formada com Bob Marley e Peter Tosh, Bunny Wailer é um artista recluso. Não tem site, faz poucos shows ao ano e a dificuldade em entrevistá-lo rendeu reportagem de John Jeremiah Sullivan, publicada no livro "Pulphead" (Companhia das Letras).

O público de São Paulo terá nesta quarta (19), no entanto, uma rara oportunidade de ver o mais importante representante vivo do reggae jamaicano. Sete anos após ter cancelado quatro shows no país, Wailer se apresentará pela primeira vez no Brasil no festival Encontro das Tribos.

O show, conta Wailer, pode chegar a três horas de duração. "Mas geralmente fico entre 60 e 90 minutos. Apresento as músicas do disco 'Blackheart Man' [1976], clássicos, tributos a Bob Marley e Peter Tosh e as canções do início dos Wailers", diz ele à Folha por e-mail.

Nascido em Kingston, capital da Jamaica, em 1947, Wailer conheceu Marley aos sete anos. "Eu o apresentei à música com um violão de bambu", conta. Com Tosh, formaram os Wailers nos anos 60.

Wailer e Tosh deixaram o grupo em 1974. Marley seguiu com outros músicos, apresentando-se como Bob Marley & The Wailers —fato que, segundo o músico, causa uma confusão que o incomoda.

"Hoje você tem músicos que se apresentaram com Bob fazendo shows e se intitulando The Wailers", diz, ressaltando que o nome deve ser usado apenas em referência ao grupo original. "Essa confusão é danosa à carreira e à obra do nosso grupo."

REPERTÓRIO

Embora o show tenha como base um repertório antigo, o cantor continua compondo. Lançou em 2014, após hiato de dez anos, o CD "Reincarnated Souls", com 50 canções.

Agora, dedica-se à promoção do disco, sem planos de lançar mais material. "Adoro conhecer fãs, especialmente agora que vejo três gerações diferentes no público. É inspirador ver o quão forte essa música é", afirma. "Só sinto falta de ter meus irmãos Robert e Peter comigo."

Marley morreu em 1981, aos 36, em decorrência de um câncer. Seis anos depois foi a vez de Tosh, assassinado, aos 42, em um assalto.

Wailer diz estar animado com o panorama atual do reggae jamaicano após "muitos anos em que grupos internacionais de reggae faziam música melhor" do que a do país onde o gênero nasceu.

"Os artistas hoje precisam fazer mais covers das canções dos primórdios do reggae jamaicano, como nós dos Wailers retrabalhamos músicas de R&B no início da carreira", opina. Entre os artistas jovens do país, Wailer destaca Tarrus Riley, 35, e Chronixx, 22.

De sua geração, diz que escuta músicas do início da carreira dos Skatalites e de seus colegas de Studio One —o mais famoso da Jamaica, por onde passaram Lee Perry, Burning Spear, Toots & The Maytals, e Heptones. "O estúdio tem um dos melhores catálogos da música jamaicana."

ENCONTRO DAS TRIBOS
QUANDO qua. (19), às 21h
ONDE Estância Alto da Serra, estrada Névio Carlone, 3, São Bernardo do Campo
QUANTO de R$ 50 a R$ 100
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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