Folha de S. Paulo


Tops veteranas contam seus desfiles inesquecíveis

Shirley Mallmann, Alessandra Ambrósio, Ana Claudia Michels, Luciana Curtis e Mariana Weickert apareceram nas passarelas brasileiras durante os anos 1990, ao mesmo tempo em que o país ganhava a sua primeira semana da moda, em 1996.

Em entrevista à Folha, elas contam quais foram seus desfiles inesquecíveis e o que sentiram quando começaram.

Também falam sobre as mudanças no setor e afirmam que ele ficou mais profissional.

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SHIRLEY MALLMANN

Qual foi o seu desfile inesquecível nesses 20 anos de moda brasileira?
É difícil lembrar um só. Foram tantos. Mas se tivesse que citar um, acho que seria o desfile da Ellus, em 2003, onde usei uma capa e botas altas estilo dominatrix. Marcou porque era meu primeiro desfile no Brasil depois do nascimento do meu primeiro filho e quando entrei na passarela as pessoas começaram a gritar e aplaudir.

O que você sentiu quando pisou na passarela da semana de moda pela primeira vez?
Orgulho, felicidade e vontade de fazer bonito.

Atualmente, o que pensa quando desfila?
Eu adoro desfilar, especialmente no Brasil. A adrenalina nunca decepciona. E adoro rever todo mundo.

O que mudou na moda brasileira desde que você começou?
Acho que tudo se profissionalizou mais. Talento sempre teve, mas não tinha um outlet organizado como tem agora. Agora o Brasil é visto como um dos grandes meios de moda mundial. Tenho orgulho disso.

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ALESSANDRA AMBRÓSIO

Qual foi o seu desfile inesquecível nesses 20 anos de moda brasileira?
O primeiro, com certeza. Por ser o início de tudo.

O que você sentiu quando pisou na passarela da semana de moda pela primeira vez?
Não imaginava o que aconteceria na minha vida profissional. Era tudo muito novo, ainda estava começando. Lembro de ter sentido um frio na barriga, que me acompanha até hoje em qualquer desfile que eu faça.

O que mudou na moda brasileira desde que você começou?
A semana de moda hoje está muito profissional. Vejo amigas que são top models conhecidas mundialmente desfilando no Brasil. Isso me enche de orgulho. Além da Shirley Mallmann, que foi pioneira, a nossa geração de modelos contribuiu muito para alavancar o nome do Brasil mundo a fora.

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ANA CLAUDIA MICHELS

Qual foi o seu desfile inesquecível nesses 20 anos de moda brasileira?
Os desfiles da Blue Man foram todos inesquecíveis. Eu adorava o David Azulay e seus desfiles sempre tinham uma atmosfera gostosa, divertida. Ele sempre buscou a beleza tanto nas modelos que escolhia, como na maquiagem e na produção. Era sério no seu trabalho sem perder a alegria e a simplicidade.

Em São Paulo, um desfile inesquecível foi do Alexandre Herchcovitch no Ipiranga (acredito que em 1996 ou 1997). Usávamos máscaras de couro e botas longas de vinil e as roupas eram maravilhosas. Foi quando comecei a entender que moda era muito mais do que a blusa desejada na vitrine de uma loja, que moda é antes de tudo arte e que o diferente é muito mais excitante do que o comum.

O que você sentiu quando pisou na passarela pela primeira vez?
Eu tinha na época 14 anos e na verdade não pensei em muita coisa. Como em tantas outras histórias de início de carreira de modelo me sentia muito estranha e muito magra para ser chamada de 'modelo', então não entendi nada quando me convidaram para conhecer uma agência em São Paulo. Fiquei mais confusa ainda quando, de fato, me 'bookaram' para um desfile. Acho que no fundo só esperava o momento em que alguém se daria conta de que havia algum engano.

Atualmente, o que pensa quando desfila?
Hoje tomei consciência de tudo o que está por trás daquele momento: a relevância daquela roupa escolhida para entrar naquele desfile, com aquele tecido, aquele corte, perto ou distante daquele outro vestido na edição, a maquiagem que demorou horas para ser definida, a luz, o som, a costureira, a camareira, a marca que precisa vender e se posicionar, a exposição do estilista e tantas outras pessoas envolvidas. E quando chega minha vez de entrar na passarela a responsabilidade está comigo, então faço como uma atriz e digo pra mim mesma que aquela é a roupa mais linda do mundo e que em mim fica melhor ainda (mesmo quando não é exatamente a verdade). Acredito que esta seja a minha função.

O que mudou na moda brasileira desde que você começou?
Pelo o que vi ao longo desses 20 anos, sinto que o talento dos brasileiros em várias áreas da moda já era incrível quando comecei. O que mudou foi o amadurecimento, a profissionalização, a confiança... E graças a exemplos inspiradores de sucesso como a Gisele Bündchen (acho que ela é o exemplo mais claro) e o comprometimento de profissionais, principalmente o Paulo Borges, a moda brasileira apareceu para muitos como uma opção de carreira, além de colaborar para que a cultura de moda no Brasil continue a expandir e se consolidar.

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LUCIANA CURTIS

Qual foi o seu desfile inesquecível nesses 20 anos de moda brasileira?
Vários desfiles passaram pela minha cabeça. O do Marcelo Sommer inspirado na Islândia, o primeiro desfile do Alê Herchcovitch para a Zoomp, um desfile do Alê que tinham várias portas e as modelos usavam umas perucas de cabelo preto duras com vários formatos diferentes.

O que você sentiu quando pisou na passarela da semana de moda pela primeira vez?
Não lembro exatamente o que senti ao pisar na passarela, mas lembro de pensar como era incrível São Paulo ter uma Fashion Week.

Atualmente, o que pensa quando desfila?
Existe uma responsabilidade muito grande para uma modelo em um desfile. Este é o resultado final de seis meses de um processo criativo de um estilista. Temos o dever de apresentar este trabalho como foi imaginado. E isso causa um nervosismo!

O que mudou na moda brasileira desde que você começou?
Acho que a maior diferença é o reconhecimento que o Brasil tem hoje no exterior. Antes da SPFW ninguém sabia nome de estilistas brasileiros, ou sobre o mercado da moda no Brasil. Hoje não só as modelos são exportadas, mas a moda brasileira também está em todos os lugares.

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MARIANA WEICKERT

Qual foi o seu desfile inesquecível nesses 20 anos de moda brasileira?
Todos são inesquecíveis porque eram extremamente elaborados. Existia um nervosismo maior por parte dos estilistas e do evento, até por não terem a experiência que todos tem hoje. Lembro muito os do Alexandre Herchcovitch, Forum, Zoomp e Reinaldo Loureiro, cujas trilhas eram incríveis.

O que você sentiu quando pisou na passarela da semana de moda pela primeira vez?
Lembro que o Paulo Borges insistia em um jeito de andar, mexendo pouco os braços, e eu tentava seguir isso. Tentava fazer da maneira mais obediente possível. Mas não teve uma sensação específica, até porque eu não tinha noção da grandiosidade que aquilo teria depois, do poder de transformação na minha vida.

Atualmente, o que pensa quando desfila?
Hoje me dedico à carreira de apresentadora e acabo desfilando em alguns projetos especiais somente. Mesmo depois de tanto tempo, acaba batendo uma ansiedade e um leve frio na barriga. É uma sensação gostosa.

O que mudou na moda brasileira desde que você começou?
Tudo. A profissionalização do evento, a cobertura da mídia nacional, passamos a ter não somente top models mundialmente famosas no evento como também celebridades internacionais. Vejo também que o público que consome moda e o evento também mudou, amadureceu. Hoje, com mais acesso à informação, é mais fácil consumir moda e trazê-la para o seu dia-a-dia. Olho pra trás e vejo que avançamos muito.


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