Folha de S. Paulo


'Jogos Vorazes: A Esperança' estreia no Brasil em número recorde de salas

A voracidade do filme é tanta que abocanhou metade das salas de cinema do Brasil. Na madrugada de terça (18) para quarta, "Jogos Vorazes: A Esperança –Parte 1", terceiro capítulo da saga juvenil, estreia em pelo menos 1.300 salas, quase 50% do parque exibidor nacional (2.800, segundo os últimos dados da Ancine).

Trata-se do maior lançamento da história do país, segundo a distribuidora do longa e o Filme B, portal que monitora dados do mercado cinematográfico desde 2000.

"A experiência mostra que esse tipo de filme, de fã, é consumido muito rápido, logo de cara", diz Marcio Fraccaroli, diretor geral da Paris Filmes, distribuidora de "Jogos". "Não é o tipo de produção que fica muitas semanas em cartaz."

Em 2012, 1,9 milhão de brasileiros foram ao cinema ver a primeira parte da saga. A segunda parte, de 2013, levou 3,5 milhões.

A Ancine e o Filme B não têm registros sobre o tamanho dos lançamentos de filmes em décadas anteriores, mas especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que dificilmente algum outro longa tenha estreado em tantas salas.

"Antes, não havia lançamentos nacionais. Os filmes ficavam rodando de seis meses a um ano por causa das cópias em 35 mm", diz Paulo Lui, presidente da Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas).

Para Paulo Sérgio Almeida, diretor do Filme B, a digitalização do circuito do país —hoje em cerca de 60%— facilita a logística e diminui os custos de um lançamento megalomaníaco como o de "Jogos Vorazes". "Imagine 2015 com 90% das salas digitalizadas. O céu será o limite."

CONCENTRAÇÃO

Em dezembro de 2012, André Sturm, dono do Cine Belas Artes, dedicado a programação alternativa, escreveu artigo na Folha criticando esses lançamentos estrondosos.

"Não parece evidente que o aumento de ocupação de salas serve para diminuir a concorrência? Quanto mais cópias, maior o investimento em publicidade", apontou. Na época, a última parte de "Crepúsculo" ocupava 1.213 salas.

"Não sou a favor de taxar os lançamentos americanos, mas no caso do Brasil, que tem tão poucas salas, deveria haver algum tipo de intervenção", diz Silvia Cruz, diretora da Vitrine Filmes, distribuidora com catálogo mais autoral.

Fracarolli, da Paris, não vê monopólio na situação. "As cópias são digitais. Não ocupam todas as sessões de uma sala. Quem vai ajustar é o exibidor, conforme a demanda."

Paulo Lui, da Feneec, concorda. "Os filmes menores não perdem salas porque já entram em circuitos menores, são de nicho. E esses filmes-evento' são pontuais, não estreiam toda semana", afirma.

Em viagem ao exterior, Manoel Rangel, presidente da Ancine, não atendeu ao pedido da reportagem para comentar se é favorável ou não a qualquer mecanismo que impeça essa concentração.

O tema foi objeto de consulta pública no site da Ancine entre abril e agosto. A proposta final da consulta é que a concentração de um mesmo filme acima de um limite máximo a ser fixado seja caracterizada como infração.

A próxima reunião da comissão técnica da agência, formada por profissionais da área para tomar decisões sobre temas como esse, acontecerá no próximo dia 26.


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