Folha de S. Paulo


Atração do Lolla, St. Vincent flerta com funk

A americana Annie Clark, 32, é uma das cantoras mais talentosas e instigantes que surgiram na cena indie rock da última década. Sob o nome de St. Vincent, ela estreou em 2007 com o disco "Marry Me" e, imediatamente, se tornou queridinha da crítica musical.

Seria apenas uma moda passageira, mas, após os discos "Actor" (2009) e "Strange Mercy" (2011), ela mostrou consistência para interpretar letras ácidas, amparadas por uma sonoridade impecável e bem-produzida.

Em 2012, Clark fez uma pausa na carreira solo e se aventurou numa parceria com David Byrne, com quem gravou o disco "Love this Giant".

Quando voltou a criar sozinha, surpreendeu com "St. Vincent", disco com múltiplas camadas sonoras, ritmos marcados por batidas pesadas e dançantes –um contraponto aos timbres de sua guitarra.

Candidato a figurar entre os melhores lançamentos deste ano, ele é a base dos três shows que Clark deve fazer no Brasil em 2015. Um deles no festival Lollapalooza.

"Estou empolgada com a viagem. Enquanto falo com você, tenho uma praia da Bahia na minha cabeça!", conta à Folha, pouco antes de seu show no festival Pitchfork, em Paris, no fim de outubro.

FUNK

"Estava me sentindo muito leve quando escrevi as letras desse disco. Strange Mercy' refletia um período triste, em que perdi amigos, pessoas de quem gostava. Desta vez não queria falar sobre dor", explica ela.

Colaborou para isso influências de artistas clássicos do funk, como George Clinton. A parte rítmica, diz ela, é inspirada no Parliament, banda de Clinton e uma das mais importantes da história do soul.

Para sintetizar essa atmosfera maluca, Clark chamou o baterista Homer Steinweiss, da banda Sharon Jones & The Dap-Kings. "É um instrumentista que tem uma importante relação com o funk e o R&B. Fizemos com que instrumentos orgânicos soassem eletrônicos, como se fossem sons manipulados por alienígenas."

Como nos álbuns anteriores, as letras narram pequenas histórias; a canção "Rattlesnake", por exemplo, se baseia em uma vivência mística durante uma caminhada pelo deserto. "Coleciono ideias que podem vir de experiências pessoais ou de amigos, piadas que ouço, leituras ou situações extraordinárias. Escrevo o tempo todo."

NICK CAVE E NIRVANA

Clark resolveu adotar a alcunha St. Vincent –nome de um famoso hospital em NY– após ouvir menção ao lugar numa faixa de Nick Cave.

Fora o cantor australiano, as referências de sua juventude agora dividem o palco com Clark, entre elas a baixista Kim Gordon, do Sonic Youth, e Krist Novoselic, Dave Grohl e Pat Smear, que a convidaram para participar da reunião do Nirvana, em abril deste ano, em performance no Rock and Roll Hall of Fame.

"Até agora é difícil para mim acreditar que fizemos aquele show. Eles não tocavam as músicas do Nirvana desde a morte de Kurt [Cobain], por isso foi uma noite muito emocionante e, ao mesmo tempo, respeitosa com o legado da banda", conta.


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