Folha de S. Paulo


Brasil passará a abrigar escritor refugiado em 2015

A cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, receberá a primeira casa sul-americana de refúgio para escritores em situação de risco.

De acordo com Carles Torner, diretor-executivo da ONG PEN International, que acompanha casos de escritores perseguidos, há, em todo o mundo, cerca de 900 jornalistas, poetas, romancistas, roteiristas, tradutores e blogueiros em situação de risco.

Com o auxílio da ONG Icorn (organização internacional de cidades de refúgio), esses escritores são resgatados de seus países —onde muitas vezes estão presos, segundo Sylvie Debs, representante da ONG no Brasil— e levados para cidades que se propuserem a recebê-los.

A partir da segunda metade de 2015, Ouro Preto se tornará uma dessas cidades.

De acordo com a professora de Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) Guiommar de Grammont, o escritor chadiano Koulsy Lamko deve ser o escolhido para passar cinco meses em Minas.

Lamko, dramaturgo exilado desde 1983 —fugiu na esteira da guerra civil que assolou o Chade de 1965 a 1979—, já está estabelecido no México e deve lecionar na universidade, morando em uma casa para docentes visitantes.

"É uma etapa para levantar apoios [financeiros] das prefeituras de Ouro Preto, Mariana e outras cidades da região", explica Grammont. "Preferimos começar com um escritor que já tenha experiência porque ainda não conseguimos mantê-lo pelo tempo considerado ideal pelo Icorn, de dois anos."

Para ser encaminhado a uma das casas da Icorn, o escritor envia um pedido de refugio à organização, que então o repassa à PEN International. "Nós acompanhamos os casos e avaliamos a gravidade e a urgência do pedido", diz Torner.

Para ser considerado um "refugiado cultural", o autor não pode ter pegado em armas, e a perseguição tem de estar ligada às suas obras.

Ele é, então, encaminhado a uma cidade onde possa continuar sua produção e que lhe seja compatível cultural e/ou linguisticamente. "Em Barcelona, por exemplo, recebemos muitos escritores de países como a Argélia, o Egito e a Tunísia, também mediterrâneos", explica o catalão Torner.

Ele aponta que, hoje, os piores países para ser um escritor são Irã, Rússia, China e Turquia, onde "o cerceamento à liberdade de expressão é muito grande".

Para escolher o Brasil como nova sede, Debs disse que o passado do país foi considerado. "Vocês tiveram seus próprios exilados, e a formação feita por imigrantes."

Segundo Torner, outras cidades brasileiras estão sendo estudadas, e o PEN promoverá um evento sobre o projeto na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2015.


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