Folha de S. Paulo


Irmão de Chico foi apresentador de TV na Alemanha Oriental

Sergio Günther soube em algum momento da vida, provavelmente nos anos 1950, que fora adotado pelo casal Arthur e Pauline Günther e que seu pai biológico chamava-se Sérgio de Holanda. Em que circunstâncias fez a descoberta e como lidou com ela, porém, não está claro.

"É fato que depois disso ele trocou o nome Horst, dado pelos pais adotivos, pelo nome Sergio, de batismo", diz a neta de Günther, Josepha Prügel. Mas o motivo da troca também permanece incerto.

Josepha, que não chegou a conhecer o avô, afirma que ele certamente tinha interesse em saber mais sobre o pai verdadeiro, mas conseguir informações do exterior na antiga República Democrática Alemã (RDA), em plena Guerra Fria, era improvável.

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Sergio Günther, o irmão alemão de Chico Buarque, em programa de TV na antiga Alemanha Oriental
Sergio Günther, o irmão alemão de Chico Buarque, em programa de TV na antiga Alemanha Oriental

A história de Sergio começa em 1930 como fruto de um relacionamento entre Sérgio Buarque de Holanda e Anne Margrit Ernst, quando Berlim ainda não estava dividida.

Seguiram-se acontecimentos dramáticos, como o abandono pela mãe, a adoção e a eclosão da Segunda Guerra, que terminou quando ele tinha 14 anos, e Chico, 1.

Os múltiplos talentos artísticos, a futura atividade jornalística de Günther e até seu sucesso entre as mulheres assemelhavam-no aos seus parentes brasileiros mais célebres.

Segundo o jornal "Neues Deutschland", já em 1958 ele era funcionário da Deutschlandsender, importante rádio da Alemanha Oriental. Na época, se envolvia também na organização de eventos culturais da Freie Deutsche Jugend, principal organização de jovens do país.

Em 1961, Günther apresentava diferentes programas na Deutscher Fernsehfunk (DFF), principal TV do país, e começou a gravar compactos pela gravadora estatal VEB.

Entre pelo menos dez músicas lançadas, "Denn wenn der Mond scheint" ("E aí quando a lua brilha") e "Hast du Angst" ("Você tem medo?") fizeram sucesso.

"A voz dele era única, muito grave e sonora, e as pessoas reconheciam-na imediatamente", diz conta Siggi Trzoss, radialista que escreveu livros sobre os cantores da RDA. "Além disso, tinha um jeito original de se apresentar."

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Teatral, sarcástico e boa pinta, Günther apresentava na TV programas de entretenimento, como o "Berlin Original", nos quais cantava músicas populares, fazia reportagens variadas, concebia documentários e criava esquetes satíricos.

"Sergio era um comunista convicto", conta o amigo Werner Reinhardt. "No aniversário de Stálin, pendurava um retrato do ditador na janela, mas acho que era ironia, não demonstração de apoio", diz.

Sabe-se que teve muitas namoradas. Foi casado quatro vezes e teve dois filhos de relacionamentos diferentes, a filha Kerstin Prügel e um do qual não se tem notícias.

Oito meses antes do falecimento de Sérgio Buarque de Holanda no Brasil, Sergio Günther morria, em 2 de setembro 1981, aos 50, de um câncer de pulmão. Como dizia o obituário publicado no jornal "Berliner Zeitung", morria "um jornalista criativo, um amigo sempre pronto a ajudar e um bom camarada".


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