Folha de S. Paulo


Leia poemas de Manoel de Barros, morto nesta quinta aos 97 anos

O poeta mato-grossense Manoel de Barros morreu nesta quinta-feira (13), aos 97 anos, em um hospital de Campo Grande.

Nascido em 1916 em Cuiabá, Manoel de Barros escreveu 18 livros de poesia, além de obras infantis e relatos autobiográficos. Recebeu diversos prêmios literários, entre os quais dois Jabutis —em 1989, com "O Guardador de Águas", e em 2002, com "O Fazedor do Amanhecer".

Barros estava internado havia mais de uma semana na UTI do hospital Proncor e tinha passado por uma cirurgia de desobstrução do intestino. Segundo o hospital, ele morreu de falência de múltiplos órgãos.

Conheça, abaixo, um pouco de sua obra:

Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

De "O Livro dss Ignorãnças":

No descomeço era o verbo.
Só depois que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.

A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
Para a cor, mas para o som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.

Do livro "Menino do Mato":

Eu queria ser banhado por um rio como
um sítio é.
Como as árvores são.
Como as pedras são.
Eu fosse inventado de ter uma garça e outros
pássaros em minhas árvores.
Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs
em minhas areias.
Eu escorresse desembestado sobre as grotas
e pelos cerrados como os rios.
Sem conhecer nem os rumos como os
andarilhos.
Livre, livre é quem não tem rumo.


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