Folha de S. Paulo


Morre o poeta mato-grossense Manoel de Barros, aos 97 anos

Morreu o poeta mato-grossense Manoel de Barros, aos 97 anos, às 8h05 (horário local) desta quinta (13), em um hospital de Campo Grande.

Barros estava internado havia mais de uma semana na UTI do hospital Proncor e tinha passado por uma cirurgia de desobstrução do intestino. Segundo o hospital, ele morreu de falência de múltiplos órgãos.

Na segunda (10), o hospital divulgou boletim médico informando que o poeta estava "consciente, orientado, mantendo sinais vitais estáveis". Na quarta (12), no entanto, ele apresentou piora, com "condição clínica instável, mantido sob sedação".

O corpo do poeta será velado a partir das 14h (horário local) no cemitério Parque das Primaveras, em Campo Grande. O enterro está marcado para as 17h (18h em Brasília) desta quinta (13), no mesmo local.

Nascido em 1916 em Cuiabá, Manoel de Barros escreveu 18 livros de poesia, além de obras infantis e relatos autobiográficos. Recebeu diversos prêmios literários, entre os quais dois Jabutis -em 1989, com "O Guardador de Águas", e em 2002, com "O Fazedor do Amanhecer".

COTIDIANO

Manoel de Barros morava em Campo Grande com a mulher, Stella, e a filha, Martha. Seus dois filhos homens, João Wenceslau e Pedro, morreram em 2007 e 2013, respectivamente.

Barros levava uma vida reclusa na capital sul-mato-grossense, onde morava desde o final da década de 1970 em uma casa na rua Piratininga, região central da cidade.

Nos últimos anos, mantinha uma rotina: acordava cedo, tomava café da manhã e ia para o escritório escrever ou ler. À tarde costumava dedicar o tempo à família. Irmãos, sobrinhos, netos e bisnetos costumavam visitá-lo quase todos os dias.

A "mania" de escrever "coisas desimportantes", como dizia, foi interrompida em setembro deste ano, quando a saúde ficou debilitada.

"Mas ele não se queixava", diz a nora Maysa Andrade, que foi casada com João, filho do poeta, que morreu há sete anos em um acidente com um avião monomotor.

Enquanto a literatura nacional sente a morte de Manoel de Barros, a família lamenta a falta que o convívio com ele fará. "Para a gente, é uma perda muito grande, deixar de ter as escritas dele, mas sobretudo conviver com a pessoa. Ele era muito alegre", diz Maysa.

O poeta era muito ligado aos sete netos e cinco bisnetos. "E as crianças a ele", diz a nora, acrescentando que o contato com as crianças era uma forma de revigorá-lo, já que ele sempre dizia que a infância era parte de sua vida.

"Vai ficar muita saudade, da delicadeza e da simplicidade que ele ensinava", disse ela.

O governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, decretou luto oficial de três dias em homenagem ao poeta.

"Levando o nome de Mato Grosso do Sul pelo país, Manoel de Barros divulgou as belezas e potencialidades do Estado enriquecendo assim, a história da literatura e a cultura do local que ele escolheu para viver ao lado de sua esposa", afirma a nota do governo.

A Academia de Letras do Estado, da qual Barros era titular da cadeira nº 1, divulgou nota lamentando a morte do escritor.

"Com profundo pesar, cumprimos o doloroso dever de comunicar o falecimento, nesta quinta-feira (13/11), do nosso confrade poeta Manoel de Barros, que era o titular da Cadeira nº 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e possuía 97 anos de idade."

DOCUMENTÁRIO

Em 2008, o cineasta Pedro Cezar lançou o documentário "Só Dez Por Cento É Mentira", que traz entrevistas com Manoel de Barros e artistas que se inspiraram em sua obra, como a escritora e atriz Elisa Lucinda, que já usou a poesia de Barros em seus espetáculos, e Joel Pizzini, diretor do curta "Caramujo-Flor", inspirado na obra do poeta.

Uma das poesias do mato-grossense dizia "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira", daí o título do filme.

Vídeo

OBRA

Veja abaixo sua obra completa, publicada pela editora Leya.

- "Poemas Concebidos Sem Pecado" (1937)
- "Face Imóvel" (1942)
- "Poesias" (1956)
- "Compêndio para Uso dos Pássaros" (1960)
- "Gramática Expositiva do Chão" (1966)
- "Matéria de Poesia" (1974)
- "Arranjos para Assobio" (1980)
- "Livro de Pré-Coisas" (1985)
- "O Guardador de Águas" (1989)
- "Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave" (1991)
- "O Livro das Ignorãças" (1993)
- "Livro Sobre Nada" (1996)
- "Retrato do Artista Quando Coisa" (1998)
- "Ensaios Fotográficos" (2000)
- "Exercícios de Ser Criança" (2000)
- "Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo" (2001)
- "O Fazedor do Amanhecer" (2001)
- "Cantigas para um Passarinho à Toa" (2003)
- "Poemas Rupestres" (2004)
- "Poeminha em Língua de Brincar" (2007)
- "Menino do Mato" (2010)


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