Folha de S. Paulo


Detonator lança álbum solo e diz que Massacration foi 'engolido por zumbis'

Detonator, personagem com que o humorista e músico Bruno Sutter, do "Hermes e Renato", fez muito sucesso no começo dos anos 2000 como vocalista da banda Massacration, lança agora seu primeiro álbum solo.

"Metal Folclore: The Zoeira Never Ends", que já vendeu quase 3.000 cópias, é cantado em português e tem como tema figuras folclóricas brasileiras, como o saci-pererê e a mula-sem-cabeça.

Sutter — que deu entrevista à Folha encarnando a voz fina característica de Detonator— critica bandas brasileiras que tratam da cultura europeia em suas músicas.

"Uma banda brasileira falar da cultura europeia é uma tremenda besteira, temos que valorizar a daqui", diz.

Totalmente formada por musicistas mulheres, a banda que acompanha Detonator, a "Musas do Metal", traz Paulitchas Carregosa e Isa Nielsen nas guitarras, Juliana Farias no baixo e Iza Molinari na bateria.

"Foi gostoso selecionar [apenas mulheres], pois uma coisa que sempre percebi nas bandas de metal é que elas têm aquele cheiro de jaula depois do show no camarim", brinca. "Minha banda é totalmente o contrário e gosto muito disso".

Além das músicas, o disco —que conta com participação especial de Alexandre Frota, João Gordo e Rafael Bittencourt— vem acompanhado de figurinhas já que Detonator explica: "Se não tem figurinha, não é álbum".

Leia abaixo a entrevista com o personagem Detonator

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Folha - Por que trazer figurinhas junto com o disco?*

Detonator - Roberto Carlos lança vários discos em sua carreira, mas nenhum deles é álbum. Se não tem figurinha, não é álbum. Todos os outros trabalhos lançados por outros artistas não são álbuns porque não tem figurinhas, somente o meu.

Por que falar sobre o folclore brasileiro?

Por que estamos no Brasil. A maioria das bandas de metal europeias fala sobre a cultura de lá. Grupos como Rhapsody of Fire e Blind Guardian, por exemplo, falam sobre elfos, Senhor dos Anéis, temas medievais, algo que vai de acordo com a cultura deles. Agora, uma banda brasileira falar da cultura europeia é uma tremenda besteira, temos que valorizar a cultura daqui.

Como está a "Metal Land" [terra fictícia onde o Massacration teria surgido]? O que tem feito por lá recentemente?

A "Metal Land" acabou, não existe mais.

Como assim a 'Metal Land' acabou?

Acabou porque foi invadida por zumbis. Esse seriado que está passando na televisão, "The Walking Dead" fez muito sucesso em todo o planeta —aliás, ele fez tanto sucesso que os zumbis saíram da televisão e comeram todo mundo que habitava na Metal Land.

E você pensa em criar um novo país ou território?

Sim, se chamará Brasil. Estou fazendo de tudo para tornar o Brasil a nova terra do heavy metal, e acho que estou conseguindo.

Como foi ter o ator Alexandre Frota no álbum?

Frota é um rapaz polêmico, então resolvi juntar forças dele comigo. Isso trouxe um pouco de destaque para o meu álbum, já que somos duas pessoas polêmicas. Fora isso, gosto muito dele como ator e pessoa.

O álbum também teve outras participações como o vocalista João Gordo (Ratos de Porão), o guitarrista Rafael Bittencourt (Angra), entre outros...

Sim, todos são músicos que estão começando agora, que fizeram fila para gravar no meu primeiro álbum solo. Quando eles souberam que eu abri a chance de alguém participar comigo, correram e imploraram para gravar. São músicos muito talentosos e que resolvi ajudar.

Como você convive com a pressão de voltar com o Massacration?

O Massacration acabou porque a Metal Land não existe mais. Quando os zumbis invadiram o local, comeram vários integrantes da banda, eu não sei mais do paradeiro deles. Fiquei sabendo recentemente que infelizmente o guitarrista Blondie Hammet [o também humorista Fausto Fanti e colega de "Hermes e Renato", morto em 2014] faleceu e agora está no plano superior. Como ele era um dos compositores das músicas comigo, não teria como voltar com o Massacration.

Você acha que o Blondie Hammet está tocando em outra banda no plano superior?

Ele gostava muito do "Jiminho" Hendrix. Provavelmente deve estar tocando algo com ele lá em cima, já que era fã. Não sei se eles vão colocar o Elvis Presley como vocalista, porque a voz dele é mais grave, mas nunca se sabe.

A música "Metal Zumbi" fala sobre o fim da "Metal Land"?

Ela fala, na verdade, sobre a minha fuga da "Metal Land". Eu pulei no mar quando os zumbis começaram a comer todo mundo, literalmente. A música conta como fugi e cheguei no Brasil. A "Metal Land" fica entre a Groenlândia e a Índia, então essa música conta esta minha saga do meu país até aqui. Eu tive que vir nadando pelo oceano e de repente acordei no Brasil, quem me encontrou foram uns ribeirinhos.

Tem planos para um próximo álbum?

Sim, meu próximo álbum contará a saga de Detonator para se tornar um 'Cavaleiro Do Zodíaco'. É só isso que posso falar no momento.

Por que selecionar uma banda exclusivamente feminina para te acompanhar?

Uma coisa que sempre percebi nas bandas de heavy metal é que tem aquele cheiro de jaula depois do show no camarim, aquele cheiro horrível de homem, com todo mundo suado. Preferi montar uma banda só com meninas porque elas são perfumadas e no final do show o camarim fica com cheiro de flor e é muito gostoso.

Elas vão participar do processo de composição do próximo álbum?

Na verdade, as músicas que o Detonator grava são enviadas pelo "Deus Metal" e psicografadas, tipo Chico Xavier.

O que você pode falar sobre Bruno Sutter, o seu "faz-tudo"?

Ah, aquele menino... Não sei porque perguntam tanto sobre ele, mas tudo bem. Ele estava desempregado e bateu na minha porta pedindo emprego. Eu dei uma chance, mas ele é meio incompetente, tenho que ter muita paciência.


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