Folha de S. Paulo


Dupla de empresários aponta sucessos e fracassos na moda

Eles acompanharam os solavancos na moda e no calendário oficial de desfiles. Conseguiram, entre altos e baixos, fazer história com suas invenções, Rosa Chá e Zoomp, que ocuparam o olimpo das grifes capazes de entregar criatividade e apelo comercial num só produto.

Amir Slama, 49, e Renato Kherlakian, 60, são duas autoridades da moda brasileira, um no nicho da praia, outro na fatia do jeans de luxo.

Slama já foi chamado de "rei da piscina" por estilistas cariocas, em função da concorrência que a paulistana Rosa Chá conseguia fazer à moda praia feita no Rio.

Letícia Moreira/Folhapress
O estilista Amir Slama, que foi dono e fundador da Rosa Chá
O estilista Amir Slama, que foi dono e fundador da Rosa Chá

Nascida nos anos 1990 em um sobrado no qual trabalhavam Slama, sua mulher e mais três costureiras, a Rosa Chá tornou-se uma potência com 25 lojas no Brasil e franquias em metrópoles como Miami, Nova York e Lisboa. "Era um negócio lucrativo que atraía vários empresários", relembra Slama.

Tanto que, em 2006, o estilista fechou acordo com o grupo catarinense Marisol e vendeu 75% de sua marca. Era uma nova fase para a maior grife de moda praia que o Brasil já teve e que aparecia em editoriais de revistas importantes como "Vogue" e "Elle" americanas.

"Por divergências internas e por não achar que valia a pena mais estar ali na fábrica, em 2011 vendi a minha parte. Doeu muito", diz Slama. Ele não pensa em voltar a criar para a Rosa Chá, controlada pelo grupo Restoque.

"Para mim, a Rosa Chá é uma filha que casou, mora longe e tenho só carinho."

GRIFE DO RAIO

A dor de ter perdido sua marca após uma malsucedida operação de venda é a mesma que acompanha Renato Kherlakian, fundador da Zoomp, grife de jeanswear nacional dos anos 1980 que concorria de frente com as gigantes da época: Forum, Ellus e Yes, Brazil.

Letícia Moreira/Folhapress
Renato Kherlakian, que foi dono e criador da Zoomp
Renato Kherlakian, que foi dono e criador da Zoomp

A "grife do raio" foi a primeira das marcas compradas pelos investidores do grupo I'M "" Identidade Moda, da holding HLDC Investimentos.

Após erros de gestão e acúmulo de dívidas trabalhistas e contratuais com fornecedores e lojistas, o conglomerado que, à época, queria investir R$ 10 milhões em marcas, afundou a Zoomp, a Zapping (segunda grife de Kherlakian) e a Fause Haten, do estilista homônimo que hoje desfila suas coleções com a marca FH por ter perdido os direitos sobre o seu nome.

"Fui o precursor dessa onda de compras de grifes, uma cobaia para servir de exemplo a outros estilistas e empresários. Fui enganado por pilantras, ladrões", diz Kherlakian. A reportagem da Folha não conseguiu localizar os responsáveis pelas aquisições do grupo I'M.

A Zoomp foi pioneira na criação de um estúdio interno de estilistas no qual trabalharam as maiores promessas da moda na década de 1990, nomes como Alexandre Herchcovitch, Jum Nakao e Karla Girotto. Hoje, a marca está em processo de recuperação judicial.

"Ainda gostaria que um grupo desses novos pudesse comprá-la. O raio amarelo ainda é muito vivo na cabeça das pessoas", diz Kherlakian, referindo-se ao logotipo que por anos foi sonho de consumo da maioria dos jovens.

Hoje, Kherlakian presta consultoria de estilo para marcas de moda e pensa, "um dia", abrir nova etiqueta.

A grife seria focada na classe C, mas com um apelo de estilo "premium", afirma. "É possível uma marca oferecer um produto barato e de qualidade se souber gerir o negócio e manter uma produção maior", diz o empresário.

Slama já negocia com um grupo de investidores da Itália uma sociedade para a expansão de sua grife Amir Slama na Europa.

"O mercado europeu ainda me procura por causa da Rosa Chá, ainda recebo e-mail perguntando sobre novas coleções e até recebi parabéns quando ela foi comprada. Acredita?", diz.

O prestígio no mercado internacional fez com que ele assinasse, dois anos atrás, contrato com a marca italiana Yamamay para a produção de pequenas coleções de roupas de banho. Neste mês, a marca brasileira Líquido lança 60 itens de moda praia assinados por Slama.

Tanto Kherlakian quanto Slama acreditam que o mercado brasileiro, após a euforia do surgimento de novos nomes na moda, começa a reconhecer suas boas marcas e a verdadeira criatividade.

"A maioria não é estilista,é empresário de moda. Eu mesmo nunca me considerei estilista, apesar de ter sido chamado assim", diz Kherlakian.

Antes da SPFW não existia uma moda autêntica e organizada, concordam os dois empresários. "As pessoas viajavam, copiavam o que se via lá fora e reproduziam. Essa é a verdade", diz Amir Slama.

"Esses novos nomes que estão surgindo têm a seu favor toda essa história de erros e acertos que cometemos no passado. Abrir lojas sem pensar como abastecê-las, ir para fora do país sem estrutura... Somos de uma geração que não tinha concorrência, fazia tudo no impulso", afirma Slama. "Perdemos muito, mas estamos aqui, produzindo."


Endereço da página: