Folha de S. Paulo


Crítica: Alceu Valença mostra talento em filme com roteiro irregular

Há muito o que admirar em "A Luneta do Tempo", estreia do cantor e compositor Alceu Valença na direção de filmes.

O musical sobre o cangaço e o folclore nordestino usa criatividade para superar a falta de recursos financeiros. A produção foi rodada aos poucos, a partir de 2009.

O filme começa mostrando as andanças do bando de Virgulino Ferreira (Irandhir Santos), o Lampião, e Maria Bonita (Hermila Guedes) pelo sertão, fugindo dos volantes comandados pelo temido Antero Tenente, vivido por Aramis Trindade.

Antonio Melcop/Divulgação
Alceu Valença como o palhaço Véio Quiabo, em cena de 'A Luneta do Tempo'
Alceu Valença como o palhaço Véio Quiabo, em cena de 'A Luneta do Tempo'

Antero mata um dos homens de confiança de Lampião, Severo Brilhante (Evair Bahia). Em paralelo, se desenvolve a história de Nagib Mazola (Ceceu Valença, filho do músico), um argelino, dono de um circo itinerante.

Mazola é um conquistador, que engravida não só a esposa de Antero Tenente, mas a viúva de Severo Brilhante. Décadas depois, as crianças se encontram e continuam o legado de violência dos pais.

Alceu Valença mostra talento para dirigir cenas de ação, mesmo com poucos figurantes. A luta dos volantes contra o bando de Lampião torna o filme um autêntico faroeste sertanejo.

As cenas da chegada do circo de Mazola a um pequeno vilarejo têm um aspecto lúdico e um tanto felliniano.

"A Luneta do Tempo", no entanto, sofre de um grave problema de roteiro, também assinado pelo músico.

As cenas se sucedem aos pulos, passagens de tempo são simplórias e não há preocupação em explorar as motivações dos personagens. O que move Lampião em sua luta contra o "poder"? E Antero Tenente?

Um dos trunfos do filme é a música, de Alceu e Paulo Rafael. Mas ela é utilizada com tanta insistência –a primeira metade do filme é quase toda musicada–, que teria mais impacto em doses menores e mais marcantes.

A LUNETA DO TEMPO
DIREÇÃO Alceu Valença
ELENCO Irandhir Santos, Hermila Guedes e Aramis Trindade
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 14 anos
MOSTRA qua. (29), às 16h30, Espaço Itaú - Frei Caneca
AVALIAÇÃO regular


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