Folha de S. Paulo


Brasileiros ganham espaço no mercado francês de quadrinhos

A obra "Estórias Gerais" foi rebatizada de "Le Brigand du Sertão". "Morro da Favela" se tornou "Photo de la Favela". "Cachalot" perdeu o "e" final. Já o título de "Copacabana" foi mantido na versão editada na França, país onde os quadrinhos brasileiros estão sendo publicados.

Mercado editorial de difícil penetração para os quadrinhos, a França agora considera e publica trabalhos de artistas nacionais.

"Copacabana", que começou a ser vendido por lá em setembro, é o mais recente trabalho brasieliro a engrossar as estatísticas do mercado francês de quadrinhos.

Divulgação
Capa da edição francesa da HQ brasileira 'Le Brigand du Sertão', de Wellington Srbek e Flavio Colin
Capa da edição francesa da HQ brasileira 'Le Brigand du Sertão', de Wellington Srbek e Flavio Colin

Lançada no Brasil em 2009 pela Desiderata e ambientada no Rio de Janeiro, a obra mostra fragmentos da vida de prostitutas e de figuras urbanas de Copacabana. Os desenhos são de Odyr Bernardi e o roteiro é do gaúcho S. Lobo, 44, responsável pelo contato com a editora francesa, intermediado por uma conhecida.

Na leitura de Lobo, a produção brasileira alcançou um nível de qualidade internacional. A inserção no mercado europeu seria uma consequência disso. Mas o fato de a história ser ambientada no bairro carioca com maior apelo turístico fora do país teria ajudado a fechar o negócio.

"Tenho certeza de que isso foi decisivo. Pensei muito nisso antes de dar nome ao álbum, queria um título que melhorasse as possibilidades dele no exterior", diz. "Mas me parece que o mercado francês se interessa por temas sociais, o que ajudou."

A publicação de "Morro da Favela", de André Diniz, 39, ajuda a comprovar a tese. Ambientado numa favela carioca, o livro é uma biografia do fotógrafo Maurício Hora. Publicado no Brasil em 2011, ganhou versão francesa há dois anos.

Hoje, Diniz tem apalavrada outra publicação no país: uma versão em quadrinhos de "O Idiota", de Fiódor Dostoiévski (1821-1881).

"A França é o oposto dos EUA", diz o quadrinista. "Os franceses estão realmente interessados pelo que se faz e pelo que se vive fora do país." Poucos meses depois de "Photo de la Favela", a editora Cambourakis publicou "Cachalote", da dupla Daniel Galera e Rafael Coutinho.

No primeiro semestre deste ano, chegou ao mercado francês a tradução de "Estórias Gerais", roteirizado pelo mineiro Wellington Srbek, 39, com arte de Flavio Colin (1930-2002). A história retrata o conflito entre grupos rivais de jagunços no sertão brasileiro.


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