Folha de S. Paulo


Crítica: Reedições mostram obra de Dias Gomes direcionada à massa

Dias Gomes (1922-1999) é hoje quase um exilado da dramaturgia brasileira. Ele, que antes era listado ao lado de Nelson Rodrigues ou Gianfrancesco Guarnieri, acabou escanteado até por autores menos expressivos, como Abílio Pereira de Almeida, na recente "História do Teatro Brasileiro" (Perspectiva/Sesc, 2013).

A editora Bertrand Brasil tenta reintroduzi-lo —aliás, mais uma vez— no panteão dos autores de temas nacionais e sociais do século passado, com novas edições de suas peças.

Dá atenção maior, como seria de esperar, a "O Pagador de Promessas" (1959), a obra mais resistente do autor no palco, com remontagens eventuais.

Patrícia Santos - 24.dez.1997/Folhapress
Dias Gomes na igreja da Glória, no Rio, que recebeu montagem de 'O Pagador de Promessas
Dias Gomes na igreja da Glória, no Rio, que recebeu montagem de 'O Pagador de Promessas'

Ferreira Gullar, parceiro de Gomes em "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória" (1968), faz a defesa do amigo no novo volume, dizendo que toda peça "está sujeita a revisão", mas que, ao reler "Pagador", isso não aconteceu, "pelo contrário, convenceu-me de que se trata de uma das mais significativas criações da dramaturgia brasileira".

Se não chega a tanto do ponto de vista histórico, "Pagador" é de fato uma peça bem feita, de quem dominava a "carpintaria", como se diz, da escrita para o teatro.

A trama tem suspense e variedade, acentuando página a pagina confronto que vai se resolver no final melodramático —e não trágico, como chegaram a descrever à época.

Mas o aprofundamento dos personagens não é seu forte. O protagonista Zé-do-Burro faz uma peregrinação com uma cruz nas costas até Salvador, onde o padre Olavo não quer permitir que ele a deposite no altar da igreja de Santa Bárbara.

O bem —o sitiante pobre— e o mal —a religião, a polícia— estão em polos simplistas, definitivos.

O Pagador de Promessas
Dias Gomes
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Gomes se desenvolveu como dramaturgo nos anos 1940 sob as asas de Procópio Ferreira, popular e comunista como ele, e isso se reflete no maniqueísmo e até no anticlericalismo das peças.

É o caso também da comédia "O Bem-Amado" (1962), outro texto reeditado agora, que teve o próprio Procópio como o protagonista, Odorico Paraguaçu.

O prefeito é uma caricatura muito engraçada dos coronéis políticos do interior do Brasil. De apelo popular, logo trocou o palco pela televisão. Mas desde os anos 1940, na verdade, já era flagrante que os personagens de Dias Gomes se ajustavam mais ao público de massa, das radionovelas, depois telenovelas, do que ao teatro.

O PAGADOR DE PROMESSAS
AUTOR Dias Gomes
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 35 (154 págs.)
AVALIAÇÃO bom

O BEM-AMADO
AUTOR Dias Gomes
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 32 (126 págs.)
AVALIAÇÃO regular


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