Folha de S. Paulo


Análise: De la Renta não era apenas 'um vestido bonito'

O dominicano Oscar de la Renta, 82, era um dos últimos nomes de um tipo de estilista que, ironicamente, é cada vez mais escasso no mundo da costura: o que sabe costurar.

Se para criar roupas hoje não é preciso saber desenhar ou mesmo pregar um botão, o designer, morto na segunda (20) -a causa não foi divulgada-, nos EUA, ensinou que não bastam ideias ou programas de computador para criar o deslumbre, é preciso alinhavar o intangível à mão, antes que uma roupa se torne palpável.

A técnica versátil e a disponibilidade em ouvir o desejo das mulheres, e não os seus, fez com que desenhasse para todas as primeiras-damas americanas desde Jacqueline Kennedy, cujo guarda-roupa de festa era repleto de designers franceses e, ao apostar em De la Renta, o tornou reconhecido entre as americanas nos anos 1960.

Não há quem lhe tire esse posto, nem a atual primeira-dama Michelle Obama, que, mesmo optando por vestir os jovens designers americanos e já tendo sido bombardeada pelo próprio De la Renta, em 2011, ao usar um look da grife inglesa Alexander McQueen, trajou pela primeira vez um "vestido coquetel" (mais curto e acinturado) do estilista 12 dias antes de sua morte.

OSCAR E OSCAR

Ousadias e faro para as mudanças fizeram parte da sua trajetória. A primeira delas foi deixar o ateliê do seu mentor, o espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972), em Madri, e mudar-se para Paris, o paraíso da alta-costura.

Depois, em 1963, deu um lance ainda mais alto: largou o sonho de Paris e mudou-se para Nova York, no país onde o prêt-à-porter começava a dar lucros e onde conquistou as estrelas de Hollywood.

Xará da premiação mais importante do cinema mundial, De la Renta era a opção segura das atrizes que não encontravam "a roupa perfeita" entre as opções de looks oferecidos pelos estúdios.

Certa vez, Stefano Gabbana, dupla de Domenico Dolce na grife italiana Dolce & Gabbana, disse: "Atrizes mudam de opinião a todo momento, se sentem inseguras facilmente. Acho um saco essas alterações de humor delas no Oscar, não tenho paciência". Oscar tinha.

Amy Adams, Jennifer Garner, Sarah Jessica Parker, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Anne Hathaway. É longa a lista de mulheres que elegiam os vestidos suntuosos do estilista em vez das construções que tentavam ser inovadoras e podiam comprometer o resultado da atriz na lista das mais bem-vestidas.

A grande ousadia da sua cartilha, por fim, era não transformar radicalmente o corpo da mulher, mas sim deixá-la confortável e, como já disse a ex-secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton, citando o amigo, "especial".
Ele próprio se divertia definindo a si mesmo como "um vestido bonito", disse ao New York Times. Contra um vestido bonito, De la Renta sabia, não há argumentos.


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